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06/10/2013: "Fé: para quê?"

Não é visível o fundamento de uma casa – o que não significa que ele não esteja lá ou que cumpra uma função dispensável. Ao admirar uma construção, o olhar procurará a beleza dos detalhes, a qualidade do acabamento, a utilidade dos espaços em vista do bem estar dos convivas – mesmo que tudo isso só seja possível graças à calculada solidez dos alicerces. Assim permanece a : tão pressuposta, tão subjacente, que raramente nos perguntamos sobre sua natureza e legitimidade. Que significa, pois, ter fé? O que ela acrescenta? Quase sempre, simplesmente cremos; e, a partir daí, dirigimos nosso esforço interpretativo às “verdades de fé”, às crenças. Tanto que, por um instante, quase nos esquecemos de que uma coisa é a fé e outra bem diferente são as crenças, pelas quais a fé se expressa. De modo que as resoluções doutrinais, os credos e os dogmas não são a própria fé, mas seu depósito, seu invólucro, o resultado sempre parcial e provisório de um longo caminho de fé, ainda em curso.

No Evangelho, os discípulos estão escandalizados pelo desafio do perdão sem limite (Lc 17,1-4) e pedem ao Senhor: “aumenta nossa fé”. A fé, portanto, não nos serve, em primeiro lugar, a conhecer as realidades “do céu”, mas da terra e do coração: o apelo à misericórdia exige uma fé dilatada. Afinal, de que se constroem as realidades celestes senão da graça que nos acompanha nas encruzilhadas da vida cotidiana? Pois é a vida, vivida com generosidade, que nos abre as portas da eternidade – assim cremos.

longe

À primeira vista, Jesus ensinaria uma experiência mágica da fé: ordenar a uma árvore que se arranque da dureza do solo e se plante no mar. E há quem assim conceba a fé, como a capacidade de realizar o irrealizável; de romper a ordem natural do mundo; de convencer Deus a uma intervenção favorável em caso de dificuldade ou apuro. “Tenho muita fé, pois consigo tudo de Deus”, caso a fé fosse a saciedade dos desejos ou das necessidades, fossem elas reais ou caprichosamente inventadas.

Jesus continua com uma parábola, sobre um servo que, após o calor do dia e o cansaço do trabalho, ainda cumpre suas obrigações com esmero, sem esperar que o patrão lhe agradeça, pois tem consciência de seu lugar de serviço. Na pergunta dos discípulos, a fé possibilita perdoar e amar; na resposta de Jesus, a fé permite servir com generosidade até o fim, pois é maior que o cansaço ou o desânimo. A fé não retira do trabalho o servo, tampouco convence o patrão a reconhecer-lhe o empenho; menos ainda o coloca sossegado à mesa. A maior transformação operada pela fé não está na exterioridade da cena, mas no interior do coração de quem continua a servir, pois precisamente esse é o seu lugar.

Quiçá também nós sejamos homens e mulheres de fé. Não para alcançar de Deus favores ou para que ele nos livre dos sofrimentos que fazem parte desta vida; mas para reconhecermos, sobretudo nos reveses da vida, sua Presença que de novo a cada momento se nos dá (graça) e nela encontrarmos coragem para viver a vida com profundidade e integridade – no sofrimento e na alegria, na frustração e na realização, na incerteza tornada esperança.

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Por, Frei João Júnior, OFMCap

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