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01/09/2013 "Feliz de ti, porque eles não te podem retribuir”

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Comentário ao Evangelho do XXII DOMINGO DO TEMPO COMUM

Nossos antecessores na fé se perguntaram, certa vez, o porquê de Deus nos ter criado. Que necessidade Ele tinha para nos fazer, com a habilidade de suas mãos? Talvez ele precisasse de nossas velas, carecesse de nossa adoração, ou estivesse só… Nenhuma resposta, entretanto, foi mais bonita do que aquela que enunciava: Ele nos criou por transbordamento de seu amor. Não por carência, não por vaidade, nem por solidão, mas gratuitamente.

Nossa origem mais fundamental é, portanto, essa: somos filhos da gratuidade. E os vestígios dessa verdade nós encontramos na nossa história. Desde que fomos lançados na vida, ainda indefesos e cheios de carências, recebemos o amparo preciso, fomos amados por quem nem tínhamos condição de agradecer. Crescemos sem poder controlar os mecanismos da natureza que, involuntariamente, foram pondo em desenvolvimento nosso corpo, nossa razão e linguagem… Toda a nossa vida também depende irrenunciavelmente de fatores que nem sempre agradecemos: o sol e seu calor, o ar que respiramos, a chuva e seus benefícios, os alimentos que a terra dá… A verdade é, pois, que temos uma dívida impagável para com a natureza e para com a vida. E a questão, propriamente, não está no fato de não podermos pagá-la e sim, de que isso não nos é pedido.

Mas, conseguimos amar gratuitamente, nós que de graça, recebemos tanto? É-nos possível amar sem pensar em ser amado; ajudar sem esperar, no mínimo um obrigado; dispor-se sem contar com a disposição alheia? Relações, nas quais um só vai ao encontro do outro não se sustentam, definitivamente. No fundo, é claro, o que queremos é ter, próximos de nós, aqueles que nós amamos e que nos amam, nossa família e amigos, os que nos fazem bem e que despertam em nós aquele sentimento de amparo silencioso.

Contudo, há sempre o risco de que as relações se tornem apenas um comércio; relações em que passemos do desejo de receber ao egoísmo de não querer também dar; de que sem satisfação e retribuição desistamos também nós, de amar e, para sempre. Por isso, deve chegar a hora em que, depostas todas as utilidades, funções e benefícios que uma pessoa pode oferecer, nós sejamos convidados a lembrar: de graça recebemos; podemos também, proporcionar.

Jesus já lembrava com toda a sua sabedoria: felizes são os que dão a quem não pode retribuir. Não só porque Deus irá recompensá-los, mas porque ampliado o campo de visão, saindo de relações exclusivas e indo ao encontro dos mais necessitados, estaremos nos dando conta de algo essencial: os mais indigentes, irrestritamente, merecem descobrir o amor gratuito de Deus, que como um sol, quer brilhar para todos. E porque tal luz irradiará de nós, a realização já não estará mais em esperar o que virá em agradecimento e retribuição, mas estará na própria alegria de oferecer e dar.

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Por, Eduardo César

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