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03/11/2013: "ou santos ou desumanos"

03 de novembro de 2013

Solenidade de Todos os Santos

A muitos de nós, a catequese prestou o desserviço de incutir um “senso religioso” pouco católico, menos ainda cristão, baseado na abissal diferença, incongruência, incompatibilidade ou quase oposição entre o céu e a terra, entre eterno e temporal, entre alma e corpo, entre sagrado e profano; enfim, entre Deus e nós. A suprema santidade de Deus só seria, pois, contemplável mediante a negação daquilo que mais sinceramente somos, de nossa identidade com o mundo e da carnalidade que, nos fazendo irmãos de todas as coisas criadas, nos torna também disponível ais sopro divino (cf. Gn 2,6-7). “Santo” seria aquele que, separado do mundo e das pessoas, diferencia-se deles, eleva-se sobre eles, vence-os em sua iniquidade e em cujo olhar cabe somente Deus mesmo. Poderia até ser assim, se Deus, querendo se dirigir a nós, não tivesse assumido nossa vida e nossa carne, sacralizando nossos amores e nossas esperanças, tanto quanto mais humanos eles sejam. E se, para a festa de “Todos os Santos”, não nos fosse oferecido exatamente este texto evangélico de “Bem-aventuranças” (Mt 5,1-12a).

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Pois, conforme já aprendemos do “Fariseu e do Publicano”, na semana passada, uma santidade que simplesmente oponha os irmãos, enchendo de orgulho aquele que, do alto de sua vaidade religiosa, já não precisa de mais ninguém, nem de Deus, seria uma farsa. E, se a santidade fosse assim toda devotada exclusivamente ao céu, dificilmente poderiam ser ditos “bem-aventurados”, “felizes” ou “santos” os pobres ou os aflitos, os mansos incompreendidos ou os que têm fome, os que zelam pela misericórdia ou os puros de coração, os fazedores da paz ou os injustiçados e maltratados por causa da justiça.

Assim, a santidade talvez seja, antes de tudo, uma radical disponibilidade a Deus e à sua graça, que se dirige a nós a todo o tempo, na mais comum cotidianidade. Ou, talvez, o cumprimento daquele primeiro dever nosso ou a assunção daquela primeira vocação: encarregar-nos de cuidar de nós e do mundo, como Deus mesmo o faz através de nossas mãos. Ou, ainda, reconhecermo-nos filhos desse Mistério que ama – o Pai – irmãos dos sofredores, dos pobres, dos que padecem fome e sede, dos injustiçados, dos que entregam sua vida em favor da paz. Filhos como Jesus, fiéis como ele foi fiel e, por seu Espírito, nos sustenta e conduz.

Se assim for, a santidade não será tanto uma separação opositora, mas uma cooperação fraterna com o mundo. E “santos” não serão apenas os “eleitos”, quase como um seleto grupo de “preferidos de Deus” ou privilegiados, separados de nós e de nossa indignidade, elevados para sempre à glória dos altares e distantes objetos de nosso culto, mas a grande multidão de todos aqueles que souberam acolher os apelos insistentes do Espírito e fazer de sua vida uma resposta coerente de profundidade e beleza.

Quer saibamos seus nomes, quer a história os tenha unido pelo anonimato; quer os tenhamos perto de nós como exemplo impactante, quer apenas conheçamos as vagas notícias de seu heroísmo evangélico; quer tenham doado seu sangue em defesa da vida ou doado dia a dia as gotas de seu suor em trabalho incansável; celebramos hoje “Todos os Santos”. Que, inspirados pelo testemunho desses nossos irmãos e irmãs, reconheçamo-nos também nós chamados a esse serviço ao mundo e às pessoas: a santidade.

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Por, João Júnior ofmcap

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