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21/06/2014: "Mais que os pardais"

Comentário ao Evangelho da XII Semana do Tempo Comum: Mt 10, 26-33

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A vida tem seus dilemas e suas ambiguidades. Nas contingências de nossa história, não são raros os momentos em que nada parece fazer sentido. Às vezes, os limites impostos à vida parecem estreitos demais, incapazes de conter nosso sonho de infinitude. Parece não haver, debaixo do céu, bem que seja absolutamente bem – o que é perturbador – mas tampouco mal que seja absolutamente mal – o que é um alívio. Em nossa epopeia histórica, bem e mal, bondades e maldades, conquistas e frustrações, avanços e retrocessos, luzes e trevas, encantos e desencantos parecem tecer uma trama confusa, nem sempre tão bonita. E, à vista dos reveses e avessos da tessitura da história, parece legítimo, se não duvidar, ao menos questionar sobre a real existência de um fio que a conduza, de um sentido que a unifique, de uma meta que a atraia. Afinal, mesmo nas encruzilhadas mais indecisas ou nas incompreensões mais violentas, nas covardias mais vis ou nas hipocrisias mais fingidas, nos crimes mais hediondos e nos ardis mais vingativos, haveria ainda espaço para afirmar um plano que, prestando-se às escolhas da liberdade humana e às fatalidades da natureza, com atraso ou adiantamento, anseia por cumprir-se em nós?

Nossa esperança diz que sim. E, por tomar a sério até as últimas consequências as imensas possibilidades do coração humano, a fé cristã afirma que nenhuma maldade, por maior que seja, é definitiva. E que a última palavra sobre nossa história não será pronunciada pela iniquidade dos homens, mas pela misericórdia de Deus. Uma palavra de salvação que se oferece contra toda perdição e chaga; palavra de liberdade que se oferta contra todo cerceamento e privação; palavra de gratuidade generosa sobre toda sovinice e ganância desmedida. Um dia de definitiva justiça, quando cairão todas as máscaras da mentira, quando se corrigirão todas as deformidades e curarão todas feridas da violência, quando se pronunciarão todos os lamentos calados pela prepotência e grassarão à luz do dia todas as perpetrações humanas tecidas na turveza dos corações perversos. Um dia em que não haverá mais contradição, nem ambiguidade, nem desconfiança.

A esperança de um dia assim, pleno de definitividade, faz compreender as reiteradas palavras de Jesus: “não tenhais medo” (vv. 26.28). De fato, habita em nós, por pura graça, algo de eterno – imagem do Eterno que nos sustém. E, por mais contrários que pareçam os ventos da história e escandalosas as violações da perversidade, não nos enganemos: estamos nas mãos de Deus e Ele não permite que nos percamos. Não há mal que dure para sempre, nem injustiça que triunfe sobre a paz, tampouco medo que submeta o amor – assim afirma nossa fé. Embora não devesse, a iniquidade pode até nos privar do necessário alimento, mas não do vigor e da coragem; pode até nos frustrar os projetos, mas não aniquilar nossa esperança; pode mesmo nos roubar a liberdade de ir e vir, mas não a de amar e ser felizes. Porque, no fundo, o sacrário mais precioso de nós mesmos não está ao alcance das mãos indolentes, mas aos cuidados de Deus mesmo. E, se até aos pardais que abundam pelo campo, Ele abraça com ternura, quanto mais a nós, seus filhos?

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Por, Frei João Júnior ofmcap

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