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25/05/2014: "Livres pelo Espírito"

Comentário ao Evangelho do VI Domingo da Páscoa: Jo 14, 15-21

 voo-da-liberdade

Ao contrário de muitos líderes, inclusive religiosos de ontem e de hoje, Jesus de Nazaré nunca prendeu as pessoas a ele mesmo. Ao menos, esse é o testemunho que nos chega pelas Escrituras. São muitos os relatos em que, após uma cura ou experiência profunda de superação e reconquista da, Jesus não somente diz àquele que o procurara: “a tua fé te salvou”; mas principia dizendo-lhe: “Vai!” (Mc 5,34; 10,52; Lc 7,50; 8,48; 17,19). Chegou mesmo a não permitir que um jovem o acompanhasse, se para isso tivesse que deixar para trás sua família e seu povo, tão necessitados do mesmo Evangelho que o curara, em terra estrangeira (Mc 5,19-20). E até aos discípulos, certa feita, Jesus arguiu sobre as motivações do seguimento, propondo-lhes ir embora se assim desejassem (Jo 6,66-67). Ao que parece, Jesus compreendeu que ele mesmo estava em missão, a serviço de uma Palavra, de um Reino, de uma Boa Notícia nascida do coração do Pai e desejosa de ser comunicada a toda criatura. Mas que essa Boa Notícia só poderia ser autenticamente crida e vivida se acolhida com liberdade e desejo.

Seria, pois, uma grande contradição se, após a morte de Jesus, os discípulos se agrilhoassem ao pranto de sua ausência. Ou, pior ainda, se o Ressuscitado permanecesse para sempre na frente de seus discípulos, como um tutor, alimentando neles certa dependência do Mestre e impedindo que assumissem, por si mesmos e com maturidade, as consequências e os riscos da própria fé e da própria vida. Se assim fosse, o Ressuscitado não seria o mesmo Crucificado – aquele Jesus que convidou com tanta insistência à autonomia e à liberdade, mesmo diante dos ditames religiosos.

Por isso, aos poucos, é preciso que o Ressuscitado deixe de ser uma presença externa, ou uma aparição, talvez recebido como um consolo na ausência (mensageiro de uma saudade), para se tornar uma presença interior, uma chama que crepita, ilumina e aquece o coração daqueles que ama (anúncio de uma esperança). Assim como ocorreu com os primeiros discípulos, ele não está mais diante dos nossos olhos, disponível a satisfazer nossa curiosidade e dependência infantis, mas se encontra ao mesmo tempo no recolhimento do Mistério do Pai e na profundidade abissal dos dramas humanos, convidando-nos à assumência corajosa e adulta da vida e da fé. Talvez por isso, a fé nos ensine que, se a missão do Filho foi guiada e sustentada pelo Espírito, é o mesmo Espírito que nos comunica a presença do Filho: presença misteriosa de Deus que, viva, se faz força vivificadora. É ele, o Espírito, que testemunha em nós a presença do Ressuscitado, tornando-nos capazes daquela fidelidade pedida por Cristo.

Que o Crucificado-Ressuscitado nos ensine o caminho de sua Páscoa: o mergulho confiante e corajoso nos desafios da vida e do mundo, um convite a viver até as últimas consequências os riscos do seguimento, mas com a autonomia e a liberdade de discípulos adultos. E que o Espírito Defensor nos sustente nos dilemas e incertezas inevitáveis desse itinerário, convencendo-nos da mesma esperança do Ressuscitado.

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Por, Frei João Júnior ofmcap

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