AUTORIDADE
Por Dom Paulo Francisco Machado
Bispo Diocesano de Uberlândia
No passado, quando se desejava dar alguma opinião ou defender um ponto de vista, uma tese, ia-se à busca das autoridades. Dizia-se que, mesmo um anão, nos ombros de um gigante podia descortinar um horizonte mais amplo, ir além. Talvez você não esteja entendendo o porquê desta breve introdução. Respondo já. Nos dias de hoje, não faltam doutores a ensinarem sobre os mais diversos temas: da Teologia à Biologia, da Metafisica à Física Quântica; da moda (o que a beldade vai vestir ou, desvestir hoje) ao milagroso remédio para o câncer de esôfago.
Tudo vai ao ar pelas poderosas asas da internet. Já são milhões de “youtubers” a se sentarem na cátedra de um ecrã de computador ou smartphone, para tratar de tudo e de todos, quase sempre fazendo uso de um grande vozerio, quando não de inumeráveis palavrões, que deixaria minha amada avó, se estivesse viva, roxa de vergonha. A autoridade não é a daquela que no alto, enxerga mais longe, como afirmavam os pensadores medievais, mas daquele que grita mais forte.
Hoje todo mundo é mestre, doutor, sábio, basta sentar-se à frente de um celular e despejar, publicar suas altíssimas sabedorias. Não digo que todos sejam assim, pois para nossa felicidade, ainda há pessoas verdadeiramente sensatas e sábias que fazem das mídias um instrumento da verdade, do bem e da justiça.
Desculpem-me os que não são católicos, mas quero dar um exemplo que ocorreu comigo numa celebração eucarística. No final da missa, dirigi-me aos fiéis advertindo-os acerca de pessoas que fazem uso da mídia sem nenhum respeito ao Papa (sucessor de Pedro) e aos bispos (sucessores dos apóstolos). Estas são as autoridades que, no campo da fé e da moral, devem ser ouvidos, no mínimo, com respeito, pelos fiéis católicos. Mais tarde, terminada a celebração, ao abrir meu e-mail lá estava uma mensagem afirmando que “estava descolado”. Ora, eu não sou avião para – assim se diz em Portugal, descolar do aeroporto, mas vá lá, eu estava “descolado”? E, mais ainda, lá estava no e-mail, não lhe dei a oportunidade de me rebater. Lembrei-me logo do apóstolo Paulo a falar: “ Se alguém quer discutir, não é esse o nosso costume, nem o das Igrejas de Deus” (1Cor 11,16). Sua indignação, certamente, se devia ao fato de não ter dito o que ele queria ouvir.
Repito e insisto, a Igreja tal como Jesus a concebeu, tem suas autoridades. Cito um só texto para não me alongar: “Bem-aventurado és tu Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne ou sangue que te revelaram isto, e sim o meu Pai que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e a s portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt16,17-19).
Duas coisas não podem faltar, é certo, no exercício correto da autoridade, do poder que vem do alto, que foi conferido pelo Senhor Jesus a quem Ele escolheu: a sabedoria alimentada nas Sagradas Escrituras e no encontro pessoal com Cristo, pois o amado deve saber recostar a cabeça no peito do Mestre (Jo 13,25) e, a humildade à semelhança do nosso “Mestre e Senhor” que não se envergonhou de se ajoelhar – o que não fez para Satanás – diante dos apóstolos, da nossa humanidade pecadora. Ele, como Mestre e Senhor, também é o Eterno Bom Samaritano a cuidar das nossas grandes feridas: aquelas do corpo, como a injustiça, a miséria, a fome; as da alma, como a ignorância, o erro; as do espírito, como o pecado e a resistência ao Espírito Santo.
A Igreja por séculos, na Celebração Eucarística reza pelo papa e pelo bispo local. Não deixe, pois, de rezar pelas autênticas autoridades de sua amada Igreja.
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