Reflexão Dominical:
Somente quando uma vida chega ao termo é que temos condições de compreender o que antes, não podíamos; a vida revisitada descortina sentidos que permaneciam secretos. Por isso, quando celebramos a assunção de Maria, sua glorificação, nossos olhos se dirigem nesse evangelho, para o início, quando ela entra na cena bíblica. E entendemos que a glorificação final de Maria, não foi nada mais do que a plenificação da experiência de uma vida: “Minha alma (vida) glorifica ao Senhor” (Lc 1, 46).
Mas quem foi essa mulher elevada aos céus? Não foi uma rainha vestida com ricos brocados, certamente, mas uma pobre virgem, campesina. Por isso, Nossa Senhora, não é uma Rainha aos moldes das grandes monarcas, mas é a Virgem de Nazaré, a mesma pobre serva que se reconhece como bem-aventurada, por conta do que Deus pode realizar e não por seus méritos próprios. E mais: ela compreende o sentido de eleição; Deus não escolhe a alguns, somente, mas por meio de alguns, quer chegar a todos. Junto dela –pobre serva –todos os humildes, indigentes, os pobres de cada geração receberão a graça de Deus e reconhecerão que Ele foi misericordioso dando seu Filho.
O evangelho de Lc 1, 39-56, mostra uma mulher disponível. De reconhecer as maravilhas que o Senhor promove em sua vida, Maria passa ao serviço, à missionariedade. De encontrada por Deus, ela corre ao encontro. E ao Deus que fez em sua vida maravilhas, ela canta os indícios de uma boa-notícia: humildes se alegrarão e os soberbos ficarão desconcertados; os poderosos serão derrubados e os humildes finalmente exaltados; os pobres serão saciados e os ricos sairão de mãos vazias. Deus, afinal, não deixa suas promessas sem cumprimento.
Ora, diante desse canto de Maria não podem passar tais perguntas: que alegrias nós podemos proclamar para tantas mulheres ainda discriminadas? Como proclamar bem-aventurados os miseráveis, sem o cinismo de não lutarmos com eles e por eles? Como, afinal, falar de um Deus que cumpre suas promessas se não vem logo a “glória” tão esperada? Ela estará, por acaso, reservada só para depois dessa vida?
Com efeito, haverá sempre o ainda-não, a plenitude reservada para a glória junto de Deus. Mas, “já agora” é urgente a nossa postura de glorificarmos a Deus com a nossa vida. De também nós, assumirmos a missão de dar à luz Cristo, para um mundo que carece de esperança. As promessas de Deus encontram concretude, enfim, se ao encontrarmo-nos com Ele, corrermos ao encontro de todos aqueles que também merecem viver.
Maria gerou no corpo o que antes gerou pela fé em seu coração: abriu-se à vida. Elevada aos céus, ela é a ‘serva’ que representa o Israel desvalido: foi acolhida pela Vida. A Mãe já participa do que o Filho também dispôs a todos que Ele filiou: da glória de Deus. Então, já destinados a essa realidade, não valerá gerar para o mundo, pela fé, o que a Mãe gerou em seu corpo?
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Por, Eduardo César
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