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Bento XVI: um ano de emeritância

Há um ano, no dia 11 de Fevereiro de 2013, o agora papa emérito Bento XVI renunciava ao papado. Fato ocorrido na Igreja Católica a mais de 600 anos de distância, segundo historiados.

Papa+Bento+XVI (1)

Na teologia católica se diz que o papa é o sucessor do apóstolo Pedro, a quem Jesus teria confiado a missão de “pastorear o seu rebanho”, os seus demais irmãos e irmãs.

Em relação a Simão Pedro, discípulo do Senhor, há dois diálogos sintomáticos que os evangelistas nos trazem. Gostaria de salientar os recortes de Mateus e João. Ei-los:

“Disse-lhe Jesus: ‘Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não poderão vencê-la” (cf. Mt 16, 18);

“Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes? Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Jesus lhe disse: ‘cuida dos meus cordeiros’. Simão filho de João tu me amas? ‘Sim, Senhor, tu sabes que te amo’. Jesus lhe disse: ‘apascenta as minhas ovelhas’. Simão, filho de João, tu me amas? ‘Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo. Jesus disse-lhe: ‘Cuida das minhas ovelhas” (cf. Jo 21, 15-17).

Nos dois trechos fica clara a condição de Pedro em relação ao grupo: a de primeiro entre os irmãos. De confirmá-los na fé, na esperança e na caridade, isto é, animando-os, sustentando-os; sendo, portanto, sinal de unidade e de comunhão. Jesus “institui” o primado, portanto, e não o papado (fruto da história e que séculos mais tarde, em oposição ao império, a Igreja, na tentativa de se desvencilhar dos tentáculos imperiais irá, gradativamente, se configurando a ele).

Um mandato que não foi direcionado unicamente a Pedro [papa], mas a todo e qualquer batizado, pois, concomitantemente, esta mesma diretiva é confiada a todo cristão que, pelo batismo e na esteira do seguimento, é chamado a ser sinal da unidade visível do corpo místico de Cristo que é a Igreja. Disso, os cristãos não estamos ignorantes: seremos tão melhores sinais e mais credíveis se nos considerarmos e nos relacionarmos como irmãos e irmãs, membros de um único e mesmo corpo. Cada um cumprindo com eficácia e diligência a vocação a qual o Senhor nos confiou.

Na Igreja há muitos ministérios, mas um mesmo é o Espírito, dirá o apóstolo dos gentios (cf. ICor 12, 5ss). É o Espírito quem nos concede o[s] seu[s] dom[s] para melhor servirmos ao corpo de Cristo, a saber, Sua Igreja. Enquanto ministério ordenado, há na Igreja Católica três graus distintos: episcopado, presbiterato e diaconato. Esses ministérios são vocações (chamado, dom e mistério), e não título ou profissão. As demais nomenclaturas são títulos (monsenhor, núncio, cardeal, papa) caracterizando-se, portanto, como cargos que, há seu tempo, podem e devem ser substituídos. Um bispo, p.e., ao completar setenta e cinco [75] anos de vida deve solicitar a renúncia de seu cargo, não de sua vocação. Essa é indelével.

Bento XVI, ao renunciar ao seu cargo de papa, o fez na competência dos direitos inalienáveis que assistem a toda pessoa humana, afinal, o homem é sua consciência:

“Após ter repetidamente examinado minha consciência ante Deus, eu tive a certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, não são mais ideais para um adequado exercício do ministério Petrino (…) que (…) devido à sua essencial natureza espiritual, deve ser realizado não só com palavras e ações, mas não menos com orações e sofrimento (…) de modo a governar a casa de São Pedro e proclamar o Evangelho, ambas as forças mental e de corpo são necessárias, força que em mim nos últimos meses, deteriorou a um ponto que eu tenho de reconhecer minha incapacidade para cumprir adequadamente o ministério confiado a mim” (pp. Bento XVI – 12/2/2013).

Embora, não sem nos comover e nos solidarizar com ele, é preciso dizer: Bento XVI renunciou ao cargo de papa que lhe foi confiado pelos cardeais, e não à sua fé, ao seu batismo e/ou ao seu Senhor. E, no mais, o timoneiro desta barca [Igreja] é Cristo e somente a Ele devemos nos confiar, fixando-lhe o olhar para aprendermos dEle a confirmarmo-nos uns aos outros na mesma fé.

Com a sua renúncia, Bento XVI deu-nos uma grande lição cristã: a de não nos apegarmos aos bens deste mundo e à pífia ilusão do poder. Recordou-nos ainda, que enquanto cristãos, devemos nos ocupar da fraternidade e não da comodidade que o poder propicia, pois bem advertiu-nos o Mestre: “sabeis que os chefes das nações as dominam e os grandes fazem sentir seu poder. Entre vós não deverá ser assim. Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve e quem quiser ser o primeiro entre vós, seja vosso escravo. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (cf. Mt 20, 26-28).

Que o bom Deus se digne abençoar grandemente a vida deste nosso irmão na fé, Joseph Alois Ratzinger (nome de batismo de Bento XVI), restituindo-lhe as forças e a saúde. E que a sua vida posta a serviço do Evangelho e da Igreja possa nos estimular em nossa vocação e caminhada cristãs.

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da Redação do CCD.

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