Destaque Palavra do Bispo

Compadeceu-se dele (CF 2020 – Parte II), por Dom Paulo Francisco Machado

Compadeceu-se dele (CF 2020 – Parte II)
Dom Paulo Francisco Machado
Bispo de Uberlândia

Etimologicamente, compadecer-se é trazer para si mesmo a dor, o sofrimento do outro, uma forma especial e sublime de solidariedade.

No Antigo Testamento, na passagem da sarça ardente, segundo antiga interpretação rabínica, Deus escolheu mostrar-se a Seu Servo Moisés nessa espécie de espinheiro, para como que sentir em Si mesmo a dor de seu povo, escravizado pelos egípcios. Já o Novo Testamento nos mostra a expressão máxima do amor de Deus, quando o Verbo Encarnado assume a humilhante e dolorosa morte na cruz e, mais ainda, sofre pelo sentimento de ser abandonado pelo Pai (Mc 15,34).

O discipulado só é autêntico se acompanha, se segue os passos do Mestre. Note-se que não se trata só de conhecimento de conteúdo, memorização de inúmeras informações, mas partilha de ideais, de vida, de criativa emulação do Mestre, por ação do Espírito. Para isto,  será necessário um conhecimento contínuo de Jesus Cristo, mediante a leitura atenta e orante dos Evangelhos, verificar como Jesus se comportava, quais as suas prioridades na vida, suas atitudes.

Posto isto, queremos saber se na vida de Jesus, antes mesmo de sua morte, se Ele manifestava compaixão, se Nele havia esta capacidade de colocar-se no lugar do outro, sintonizar-se com suas dores e sofrimentos. Então vamos abrir os Evangelhos, para expor em rápidos traços alguns desses momentos na vida do Senhor: Mt 15,32; 9,36ss; 14,14; Mt 25; Lc 7,11-17; Mc 6,30-34; 1,41; Jo 11.

No capítulo nove do Evangelho segundo Mateus, Jesus, vendo a multidão de sofredores, que o seguia “encheu-se de compaixão por elas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor”. O texto convida-nos à emulação do Mestre. E, no episódio da multiplicação dos pães, Jesus como que se coloca no lugar da multidão que o seguia, sente o cansaço e a fome dela, daí “ Sinto compaixão da multidão. Já faz três dias que estão comigo, e não tem o que comer. Não quero manda-los embora em jejum…” (Mt15,32). Também Marcos, ao narrar a multiplicação dos pães, cita a compaixão de Jesus. O texto do Evangelho segundo Lucas narra a ressurreição do filho da viúva de Naim. Jesus ao vê-la na sua imensa dor “encheu-se de compaixão por ela” (Lc 7,13). No quarto Evangelho, na narrativa da ressurreição de Lázaro, é tão forte o sentimento de compaixão de Jesus, tão forte é a sua comoção que vai às lágrimas (Jo 11,33).

Quero chamar a atenção dos leitores para o texto de Mt 25,31-46. Trata-se do discurso de Jesus no final dos tempos, o discurso escatológico. Jesus, Juiz Universal, dirige-se aos bons, premiando-os com a eternidade feliz, enquanto os maus padecerão a eterna infelicidade. O conteúdo do julgamento é o amor, pois, como afirma São João da Cruz, o grande místico católico: “Na tarde da vida, seremos julgados pelo amor”. Poderíamos afirmar – ousadia minha – seremos julgados pela compaixão: “tive fome e me deste de comer; sede e me deste de beber…”. Nesta passagem temos, pois, o Evangelho da Compaixão.

A Igreja, Mãe e Mestra, deseja que seus filhos sejam autênticos discípulos do Senhor. Ela existe para evangelizar e, assim santificar-nos. Em Jesus, o exemplo. Humildade e compaixão são sentimentos de Cristo e dos cristãos (Fl,2,5).

Jesus, ao assumir por inteiro a nossa condição humana, tornou-se um experiente intercessor nosso. Que este período quaresmal, vivenciando a proposta da CNBB, possamos reavaliar nossos valores e o nosso jeito de ser, aprender de Jesus a compaixão ante a dor, a fraqueza, e as lágrimas de todos os caídos, física e moralmente.

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