Com o tema da pauta do dia, bioética, a diocese de Uberlândia, por meio da Pastoral Familiar Diocesana, realizou na manhã deste sábado (09) no salão Dei Verbum do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, a palestra “a bioética e o aborto” conferida pelo doutor em bioética, Pe. Luiz Antônio Bento, docente da Faculdade de Ingá, Maringá/PR.
Apesar do número reduzido de participantes, o palestrante não se intimidou e tratou do tema com seriedade, profundidade e cientificidade. Na sua fala de abertura, Pe. Bento salientou: “deveríamos todos ser, por natureza, defensores da vida”, fazendo referência ao fato de que, viventes, não poderíamos senão respeitar e defender a vida. Durante todo o encontro, por mais de uma vez, o doutor em bioética reiterou que, mais do que conhecidos como sendo “do contra”, os cristãos católicos deveriam se posicionar como “os a favor”, isto é, a favor da vida, em última instância, num esforço de “trabalhar o aspecto positivo da nossa missão, pois do contrário ficamos apenas na dimensão negativa”, justificou.
Para um público predominantemente formado por profissionais da área da saúde, como médicos, enfermeiros e assistentes sociais, Pe. Luiz Antônio abordou o tema polêmico do início da vida que, segundo o docente, inicia-se no ato da fecundação do óvulo, no encontro dos gametas masculinos (espermatozóide) e feminino (óvulo), dado que a ciência em sua literatura específica faz inúmeras menções. A polêmica está, justamente, em que momento e a partir de que fase a vida humana é declarada existente. Para aqueles que desejam a manipulação do embrião, “diz-se que a vida inicia-se somente após o embrião chegar ao útero materno (o que daria por volta do 14º de fecundação), período em que o embrião pode, inclusive, sofrer um aborto espontâneo sem que ao menos a gestante perceba, e que, assim, poderia perfeitamente ser manipulado sem maiores danos”, denunciou. Essa tese foi amplamente contestada pelo palestrante, uma vez que também a Igreja, por meio de seus órgãos competentes (cientificamente, inclusive), crê que a vida, ipso fato, existe desde o instante da concepção (fecundação) dos gametas humanos (confira outras teorias no quadro abaixo).
Desse modo, a fim de garantir o direito inalienável da vida humana, a Igreja, segundo Pe. Luiz Antônio Bento, defende o valor inegociável da vida desde o zigoto (primeira fase do óvulo fecundado) até a fase terminal do ser humano (na velhice); ambas as extremidades da vida humana têm o mesmo valor, ou seja, um valor equivalente. A fim de elucidar melhor sua fala, Pe. Luiz apresentou dados contundentes; segundo dados da comunidade científica, toda a informação genética do individuo já se encontra no zigoto. Assim, “somos o que somos – geneticamente falando -, desde a nossa fecundação”, afirmou.
o desenvolvimento humano inicia-se na fertilização, quando um gameta masculino se une ao gameta feminino para se formar uma única célula, ou zigoto.
MOORE, Keith, Embriologia Clinica, Elsevier/Medicina Nacionais, 9 ed. 2013.
Pe. Luiz Antônio tratou ainda do tema um tanto embaraçoso da anencefalia que, segundo ele, melhor seria se a nomeássemos de meroanencefalia, já que o indivíduo “anencéfalo” perde apenas parte do encéfalo, podendo, inclusive, diferenciar e manifestar preferências, gostos e reagir a estímulos. Para o professor em bioética dos cursos de medicina da Faculdade Ingar, na cidade de Maringá, em se tratando de situações como essas, “quando não se é possível curar é possível, ao menos, cuidar”, garantiu.
Ao término de sua exposição, Pe. Luiz apresentou a estrutura orgânica para a constituição da Comissão Diocesana em Defesa da Vida (CDDV) que, desde 1991, é um anseio de toda a Igreja como manifestada no documento de João Paulo II, Evangelium Vitae, em que se apresenta, por exemplo, o valor inviolável da vida humana. A Comissão para ser constituída deve contemplar em seus membros, médicos, psicólogos, economistas, advogados, biólogos, teólogos entre outros profissionais e deve estar subordinada diretamente ao bispo diocesano e dirigida espiritualmente por um orientador eclesiástico.
Como missão, as Comissões em Defesa da Dida promovem a cultura da vida em oposição à cultura da morte instalada em nossas sociedades atuais, denunciando-a, visto que o direito fundamental e primário do ser humano é à vida e à sua dignidade. Os objetivos, por sua vez, primam pela adequada evangelização dos agentes, para que esses possam atuar junto às diversas pastorais, movimentos, especialmente a pastoral familiar, saúde e da juventude. Como objetivo, ainda, devem auxiliar na solução de quaisquer instancias de conflito e ataque à vida humana, sempre movidos pela dinâmica do Evangelho de Cristo.
“O desafio está lançado. Agora é aproveitar o ensejo e nos prepararmos para o Sínodo das Famílias no Vaticano, convocado pelo papa Francisco em 2014”, recordou a coordenadora da pastoral familiar, Maria do Rosário Silva.
Confira abaixo reportagem do Jornal Folha de São Paulo, na sua versão online, sobre os cinco (5) momentos “possíveis” da iniciação da vida, segundo alguns cientistas, conforme endereço a seguir:
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GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO
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A primeira é a abordagem genética. Para ela, já há vida no momento da fecundação, porque a união do espermatozoide ao óvulo dá origem a uma nova combinação de genes -um DNA inédito. “Há vários pontos, inclusive éticos, a considerar, mas eu acredito que a fecundação marca o início da vida”, afirma o especialista em reprodução humana Arnaldo Cambiaghi. A maioria das religiões apoia esse conceito.
A geneticista da USP Lygia Pereira diz que a definição do novo genoma é “sem dúvida importantíssimo para o início da definição de vida”, mas afirma que isso não significa que seja o ponto definitivo no conceito de vida. “Existem muito mais fatores”, diz ela, que prefere não apontar um momento único.
DEPOIS DA FECUNDAÇÃO
Outro fator, por exemplo, é o início da gastrulação -processo de divisão que dá origem aos diferentes órgãos. Disso surge uma posição diferente da Cambiaghi, que diz ser necessário esperar até essa divisão começar para determinar o início da vida. A gastrulação começa quando o zigoto, que a partir desse ponto é chamado de embrião, instala-se no útero.
Boa parte dos abortos espontâneos acontece ainda nesse estágio e a mulher sequer percebe a gravidez. Um terceiro fator considerado é a atividade neuronal. Como a morte cerebral é interpretada como fim da vida humana, por simetria, o começo da atividade cerebral marcaria o seu princípio. Essa é a opinião da embriologista da USP Irene Yan. “Como indivíduo, o ser humano começa com o desenvolvimento da atividade cerebral”, afirmou ela. Boa parte dos cientistas considera que isso ocorre após o primeiro trimestre de gravidez, mas há divergência sobre o momento exato. Para Yan, o critério de vida precisa ser adaptado em cada espécie. “Ouriços do mar, por exemplo, não têm cérebro. Precisamos, então, encontrar outros critérios que determinem a formação de nova vida para essa espécie.”
Bem menos difundida, mas também presente, é a abordagem ecológica, uma quarta linha de pensamento. Para ela, a vida começa quando o feto já é capaz de sobreviver fora do útero, o que aconteceria normalmente no sétimo mês de gestação. Com o avanço da medicina, no entanto, esse critério fica mais difuso, pois há casos de bebês que sobrevivem nascendo bem antes. Um último ponto de vista defende que o feto só existe como vida quando se torna biologicamente independente de sua mãe. No Brasil, esse é o conceito usado para determinar quando o indivíduo passa a ter alguns dos seus direitos constitucionais básicos -o feto só tem personalidade jurídica depois do nascimento.
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