Em cada celebração eucarística fazemos memória d’aquela derradeira Ceia que Jesus realizou com seus discípulos; naquela mesma Ceia Jesus instituiu como perpétua memória a eucaristia expressão do mistério pascal: Paixão, Morte e Ressurreição.
Na eucaristia nos encontramos com o Senhor e com a comunidade. No primeiro momento encontramos com o Senhor na Palavra proclamada, ouvida, meditada e rezada, depois nas espécies do pão e do vinho eucaristizados que é seu Corpo e Sangue. A presença real de Jesus na Palavra e na Eucaristia nos sustenta na caminhada de fé a fim de que nós difundamos pela sociedade e comunidade a união no Corpo e Sangue de Cristo. Ao comungar a eucaristia comungamos a vida e a missão de Jesus, e, como discípulos, temos o compromisso de gerar na humanidade a partilha, solidariedade, acolhida, misericórdia, perdão e esperança.
Outro encontro que fazemos na celebração eucarística é com a comunidade. Ao encontrarmos com os irmãos e irmãs na fé compartilhamos experiências, escutamos testemunhos de vida, sentimos que não estamos sozinhos na longa estrada da vida. Além disso, percebemos que os cristãos pelo batismo e pela participação na mesa eucarística estão unidos por um laço sublime de amor e doação que nos faz sentir apoiados nos desafios da vida. Também, na comunidade de fé somos desafiados a sair de nossa acomodação e nos lançar em águas mais profundas (Lc 5,4).
Na ação litúrgica vivenciamos a Última Ceia de Jesus com os seus discípulos no Cenáculo, que por sua vez prefigura unicamente ao futuro imediato cujo evento fundador é o Calvário e o Sepulcro do Ressuscitado, nos lançando num futuro longínquo em que prefigura liturgicamente a celebração da eucaristia por meio do rito[1]. Assim sendo “a celebração da eucaristia é nosso modo de ir ao Calvário e ao sepulcro vazio: um ir não físico, mas no memorial, pela retomada ritual do sinal profético do pão e do cálice, por uma ação figurativa, sacramental e, portanto, absolutamente real” [2].
Quando “celebramos a eucaristia quer dizer comungar com o Vivente, que continua a dar-se a nós no sinal de sua morte, para permitir-nos ser re-apresentados sacramentalmente à eficácia redentora do único sacrifício”[3]. Nesse sentido, as espécies do pão e do vinho eucaristizados “representa” a oferta de Jesus a cada pessoa que aproxima de sua mesa para cear com Ele. Ali Jesus se entrega por inteiro a nós para nutrir a nossa vida com a sua Vida. O fiel ao comungar torna-se sacrário vivo da eucaristia e, por isso, suas ações devem ser diferentes das outras.
O comportamento de quem comunga deve ser diferente não no sentido de vangloriar só pelo fato de participar da comunhão, mas noutro sentido: se vamos a algum lugar as pessoas que lá estarão, possam perceber a paz e esperança de Cristo estampados em nós. As ações que Cristo realizou durante sua vida terrena devem ser reproduzidas pelos cristãos de hoje no gesto da acolhida, no tratamento respeitoso com as pessoas, na atitude de carinho e disponibilidade para com o outro.
Deixemos que a eucaristia produza em nós seu efeito salvífico, mas lembremos: o Corpo e o Sangue de Jesus não produzirá efeito mágico em nós. Ele nos sustenta e fortalece na missão, mas é preciso que o ser humano assuma a responsabilidade de promover a unidade e a fraternidade, a paz e a esperança, a vida e a dignidade humana.
Ao participarmos da celebração eucarística em nossas comunidades coloquemos no altar do Senhor nossas oblatas existenciais: as dificuldades, alegrias, sofrimentos, angústias e conquistas, e peçamos que o mesmo Espírito que transubstancia o pão e vinho no Corpo e Sangue do Senhor, também transforme nossas ofertas a fim de que ao comungar a eucaristia sintamos a presença viva e real de Jesus a nos ajudar no processo de conversão do nosso coração e de mudança da sociedade e da igreja.
_______________
Por, Pe. Guilherme Stort
Acesse a fanpage da Pastoral Vocacional Diocesana: Pastoral Vocacional Diocese de Uberlandia
[1] GIRAUDO, Cesare. Num só Corpo: tratado mistagógico sobre a eucaristia. São Paulo: Loyola, 2003. P.89.
[2] Ibid. p. 90.
[3] Ibid. p. 91.
Adicionar comentário