Diocese de Uberlândia Em Destaque

Formação para o Clero e Entrevista com Prof. William Castilho

Com o tema “os impactos da globalização na vida do presbítero”, realizou-se ontem, Terça-feira (22), no Anfiteatro do Instituto Santa Clara, sob a direção das irmãs Franciscanas do Senhor, no bairro Santa Mônica, a Formação Permanente para o Clero, organizada pela Pastoral Presbiteral, com o conferencista de Belo Horizonte-MG, prof. William Castilho.

Estiveram presentes à Formação cerca de vinte e três (23) padres da diocese de Uberlândia e dois diáconos transitórios. Dos muitos temas apresentados pelo conferencista, prof. William Castilho, o de maior enfoque foi o desânimo na vida do presbítero.

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“aqui também, como em todo lugar, apresenta sinais de desintegração… pessoas que aderiram ao isolamento; mas também tem um grupo que está remando contra a maré…”

[Entrevista em áudio abaixo. Confira]

Segundo o conferencista, os impactos da globalização na dimensão ética e moral são inevitáveis, uma vez que “vivemos numa sociedade em profunda crise”. O ministério presbiteral é, por sua vez, porta de entrada desses impactos. Pois, enquanto “profissão”, o presbítero sofrerá isso de modo triplicado.

O tema da Ética ganhou relevo durante toda a Formação. Numa fala mais enfática, prof. Castilho ressaltou que “ética e moral, apesar de tratarem da dimensão humana e de seus valores, podem e devem ser bem compreendidas a fim de se evitar transtornos e equívocos. A Ética, por sua vez, tenta sair da dimensão moralista que diz: “você errou”. Ela contempla o diálogo, o que, ocasionalmente, a moral não nos permite. A ética exige sempre uma hermenêutica [interpretação, compreensão]. Em síntese, ética não tem fim, pois ela vai se abrindo; vai se somando. A moral, por sua vez, facilmente se fecha em cima de alguns princípios”, salientou.

Numa espécie de análise intra eclesial, o conferencista belo-horizontino afrimou que “a Igreja muitas vezes partiu da moral e não contemplou a ética”. O imagem utilizada pelo professor da PUC foi a passagem evangélica de Jesus e a adúltera (Jo 8, 1-11). Segundo Castilho, dentro do esquema moral farisaico, não havia muita saída para Jesus. Ele foi “encostado na parede”, fora posto na berlinda. Até mesmo sua postura física reflete o seu estado de ânimo e de compreensão daquele drama. Ele se inclina. “Jesus não entra no dogma. O neurótico obsessivo adora a lei fria. Jesus não entra na dinâmica legalista. Ele se deixa envolver afetivamente por aquela mulher. Com ela ele dialoga. ‘não peques mais’, isto é, não repita mais o mal; crie algo novo. Já com os neuróticos pela lei não houve diálogo. Qualquer tentativa ali, seria motivo para celeuma”, diagnosticou o psicanalista.

Depois dessa hermenêutica pelo viés psicanalítico, o professor perguntou aos padres presentes sobre suas vivências pastorais, a exemplo de Jesus: qual o impacto de tudo isso na vida emocional, afetiva do presbítero?

“A Igreja é uma contrução ética milenar. Os impactos da globalização na vida das pessoas tem abalado muito as suas convenções e o seu viver ético”

[Entrevista em áudio abaixo. Confira]

Dentre as muitas perguntas suscitadas ao longo da Formação, algumas se pautaram pela humanização do indivíduo no coletivo. Daí, que uma dessas questões foi: o que é viver em Sociedade?  Para William Castilho é nesse exato momento, da vivência coletiva, é que a Ética será convocada, pois “ela é a ciência do comportamento dos humanos em sociedade. É a ciência dialogal da relação humana. É a hermenêutica da relação humana”. E mais; “ser ético, portanto, é dialogar”, concluiu.

Na parte da tarde, os participantes da Formação Permanente para o Clero puderam se reunir em pequenos grupos a fim de discutirem uma pesquisa realizada pela Arquidiocese de Belo Horizonte com dados alarmantes e, ao mesmo tempo, surpreendentes sobre a visão da Igreja pela sociedade em geral. Temas como sexualidade, administração, confiabilidade e testemunho foram os mais comentados. Por exemplo, 72% dos entrevistados consideraram a Homilia [reflexão após as Leituras e o Evangelho, feita pelo Presidente da Celebração, Diácono ou outro Presbítero copresidente da Celebração Eucarística] um momento importante da Celebração e que, inclusive, os ajuda na caminhada cristã. 90% dos entrevistados acham errado a prática sexual fora do casamento, mas, 78% desses entrevistados consideram errado a proibição

A ética, para o professor Castilho, tem uma função de discernimento em relação à moral, para perceber se as normas e leis elaboradas por uma determinada cultura ou sociedade são aplicáveis. A moral, por sua vez, está para construir as regras necessárias à ordenação da vida social.

Outros temas foram ainda explanados, como o dogmatismo [quando o dogma se torna uma fixação absoluta na esfera moral]. E esse tem como formação reativa o laxismo: tudo é permitido, o que, inclusive, vazão para o surgimento do “fora da lei”. Discutiu-se ainda o cientificismo de corte empirista, que é quando se suspeita de tudo, contra todo conhecimento que escapa à verificação científica. Aceita-se somente aquilo que a ciência considera como exato. Fora da ciência tudo é inexato e falso. O relativismo se nutre do modelo fisicista mecanicista da concepção do ser humano. Também se apresentou o aspecto do agnosticismo que é quando o sujeito põe em suspeita, rejeição e desconfiança de tudo, inclusive da razão e da fé.

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o cansaço dos bons. Não estou falando aqui no sentido de santos, de puros, mas no sentido de quem crê… a primeira baixa na vida desse presbítero é o cansaço, o desânimo, a descrença… vem acompanhado a doença, a depressão… ele vai perdendo esse ardor, essa fé…

[Entrevista em áudio abaixo – Confira]

E, por último,William Castilho apresentou o dado do relativismo histórico que é quando se renega valores que antes foram tidos como valor, mas, que agora são percebidos como um equívoco. O mal do relativismo está em não levar em conta o gênero [masculino, feminino], a idade do sujeito [criança, jovem, idoso], a orientação sexual [hétero e homoafetivo] e o diálogo inter-religioso.

Conflitos:

É próprio da ética gerar “conflitos”, pois ela leva a uma organização política, a uma organização do grupo (não partidarismo), tendo em vista que o ser humano é um ser político por natureza; e política aqui entendida como o lugar da convivência (afetiva), da comunicação (palavra, razão), do consenso (pacto ou acordo), do conflito (diferença), e das ações transformadoras. Um grande inimigo para a ética é a corrupção que, segundo o psicanalista William Castilho, é uma “forma erótica de se viver o ódio”.

Como alternativa, o conferencista apresentou alguns elementos que podem frear o relativismo e a falta de ética:

– Alteridade: o outro é diferente de mim.

– Compromisso com a vida

– Razão emancipatória x razão instrumental à o diálogo é fundamental

– Ética e divisão de classes: a luta pela Libertação de toda e qualquer opressão.

– Ética do desejo e da responsabilidade

– Ética aos moldes de Jesus de Nazaré

– O Reino de Deus tem rosto: ética e política

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Confira a entrevista-ÁUDIO do Prof. William Castilho ao ELODAFÉ no link a seguir:

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