Destaque Palavra do Bispo

Gente, eu vi! por Dom Paulo Francisco Machado

Gente, eu vi!
Por Dom Paulo Francisco Machado
Bispo de Uberlândia

Antes mesmo de iniciar minha breve reflexão, quero advertir ao meu paciente e estimado leitor, que não desejo fazer a propaganda desta ou daquela empresa comercial, ou mesmo, de uma determinada empresa de comunicação. Mas, vamos aos fatos.

Uma propaganda, nestes últimos tempos, despertou a minha atenção. Trata-se de uma firma voltada para o ramo de perfumaria e beleza. Ora, dirá alguém, que há de novo nisto? São tantas as empresas a fazer criativas publicidades de artigos de beleza, uma vez que nossa sociedade, desprezando outros valores maiores, cerca obsessivamente o corpo de cuidados, pois corpo “sarado” e pele limpa são os sonhos do desejo de muita gente por aí. Mas, o foco de meu artigo não é este, antes, tenho intenção verdadeiramente elogiosa. O objeto da publicidade era um creme para a pele – ao menos foi isto o que entendi – ao ver estampada na tela uma bela modelo com vitiligo.

Vibrei com o fato, com empresa que se encontra antenada com o mundo contemporâneo. Repito que não estou recomendando nenhum produto. Valho-me, para isto, da parábola do “administrador infiel” contada por Jesus que,aonarrá-la,não elogiava a desonestidade, mas elogiava a esperteza de um homem se safar de difícil situação. Assim também, os trabalhadores do Reino de Deus são chamados a uma oportuna criatividade na nossa missão de evangelizar, de pôr em marcha o Reino, a “civilização do amor”. O ideal democrático, da igualdade fundamental dos seres humanos é felizmente muito forte nos nossos dias. Há um justo ideal, um sonho de se propiciar a todas as pessoas um lugar na sociedade, de maneira que ninguém se sinta alijado dos benefícios da sociedade contemporânea, uma sociedade inclusiva.

Os evangelhos nos mostram que Jesus, Ele o nosso Absoluto Mestre, agia assim, seja quando acolhia afetuosamente as crianças (“Deixai vir a mim as criancinhas”  Mc 10,13-16), e isso num passado em que as sociedades eram, muitas vezes, extremamente cruéis com as crianças; seja quando, ousa estender a mão ao leproso para curá-lo, tornando-se impuro aos olhos  dos coetâneos; seja ordenando que um homem de mão paralisada se pusesse  em pé e, colocando-o “no meio” de um grupo, livra-o daquele mal em dia de sábado (Lc 6,6-10); seja deixando-se tocar e acolher, com grande misericórdia, as lágrimas arrependidas de uma pecadora (Lc 7,36-50). Jesus é sempre um homem contemporâneo. Os valores que Ele apregoou e, sobretudo, viveu, são atemporais, válidos para todos os tempos e lugares. Ele, como ninguém, sabia incluir as pessoas e nos convida a fazer o mesmo: ser inclusivo, reconhecer o valor, o lugar na sociedade e a dignidade de toda pessoa.

NoJuízo Final o Senhor, Aquele que nos julgará pelo amor ao próximo, vai nos interrogar acerca de nossa capacidade de incluir, ou melhor, de amar o rosto de Cristo na face dos excluídos: “os famintos, os sedentos, os prisioneiros, os peregrinos (hoje diríamos, os refugiados), os nus, os doentes, os prisioneiros” (Mt 25,35-36). Até aqui, o Evangelho, mas posso continuar enumerando: os cadeirantes, as pessoas com vitiligo, os que sofrem de anemia falciforme, a população de rua, os cancerosos, as mulheres vitimadas e, muitas vezes, mortas pelos seus maridos, os idosos, as crianças abusadas sexualmente. Será uma procissão muito extensa, quase infinita de sofredores. O Justo Juiz solenemente, de Seu majestoso trono nos adverte: São bem-aventurados os “incluidores”. Quanto aos “excluidores”? – Melhor ler  os versículos 41b e 46a do mencionado capítulo.

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