Homilia do jubileu sacerdotal de prata do padre João Antônio da Silva Júnior
Dom Paulo Francisco Machado
Bispo Diocesano
Às vezes, porque na nossa condição de itinerantes no tempo e espaço, com facilidade nos distraímos da essência das coisas e, até do sentido de nosso ministério, como serviço a Cristo cabeça de seu corpo, a Igreja, que somos nós. Por isso, não posso me furtar de afirmar peremptoriamente: “O Sacerdote, o Sumo Sacerdote é Jesus Cristo”, ao qual, por grande graça, doamos nossa vida, nossa sensibilidade, nossa inteligência, nosso coração, para continuar o serviço divino e salvífico na terra aos homens e mulheres.
A segunda leitura, há pouco proclamada, apresenta-nos Jesus Cristo como sacerdote excelso, verdadeiro, mesmo não sendo descendente de Aarão. Nosso Senhor é sacerdote oferente e, ao mesmo tempo, vítima sacrificada no altar da cruz, escolado na dor, nos muitos sofrimentos, cheio de humanidade e, por ter experimentado a fragilidade humana, repleto de bondade, de amor e, sobretudo, da misericórdia divina. Ele vê, em cada padre chamado ao ministério presbiteral, o pobre, o miserável, o pecador, mas deita sobre cada um de seus eleitos, o olhar de amor. Ele chama quem escolheu e sussurra ao ouvido do seu coração: “João Antônio Junior, você vai me seguir, dará continuidade à minha ação profética, real e santificadora. Anuncia o Evangelho ao meu povo, cuida com ternura dele e santifica em meu nome, por ação do Espírito, os meus irmãos e irmãs. Você deixará a casa de seus pais, como acontece com todo jovem ao se casar com sua noiva, para se unir a Mim, cabeça de um povo novo, em laços de amor e ensinar-lhe o Hino da Libertação. Deste modo, pronunciará em meu nome e, fazendo-me as vezes, celebrará meu voto de eterna aliança com a humanidade, ao afirmar: “Isto é o meu corpo – minha vida – entregue por vós”.
Ah, se compreendêssemos o que é o padre! – O padre é pai, rosto do Eterno entre os homens e mulheres. Está à frente de uma comunidade designada por seu bispo, para servi-la e aí, nessa forma de paternidade, encontra sentido e grande alegria para sua entrega a Cristo e à Igreja. Juninho, você é pai desta comunidade para comunicar-lhe a vida divina, o jeito de ser de Jesus, a suscitar nela a alegria do Evangelho e de evangelizar. Por isso agradeço e louvo a Deus por seu serviço missionário na e da Diocese de Uberlândia. Sou-lhe grato pelo seu empenho em, paulatinamente, dar à nossa Igreja Particular o rosto missionário. Agradeço seu esforço, junto da equipe do COMIDI, para sairmos da imobilidade e ir ao encontro das irmãs e irmãos afastados, especialmente os pequeninos famintos de todo pão, o descido do Céu e o brotado da terra. O padre é pai dos membros da paróquia, incentivando-os a caminhar em Cristo, incitando-os pela Palavra e alimentando-os com o Pão da Vida.
O padre é presbítero, ou seja, pessoa experimentada nas coisas, nas realidades de Deus, especialmente, é exemplo e mestre de oração, a levar os fiéis, pela oração, a mergulhar nas profundezas do amor divino. Aqui, nesse sentido, louvo o Espírito Santo, que lhe deu eficiência no auxílio às seculares consagradas a viverem o Evangelho da Alegria e no mundo saborearem a riqueza do batismo e, pela vida consagrada a Deus, pela oração e por apostolado, na simplicidade, disseminar no tempo, o Eterno; no terreno, o Celeste; no humano, o Divino.
O padre é sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque. Nesses 25 anos de serviço diuturno, quantas vezes você pronunciou as mesmas palavras de Cristo: “isto é o meu corpo” e inúmeras vezes ao pecador humilhado pelos seus pecados, você traçou o sinal da Cruz, símbolo eficaz do perdão e da paz para com Deus, com a Igreja e com os irmãos. O serviço sacerdotal que você exerce tem sua raiz no ministério de salvação de Jesus Cristo, que você recebeu pela imposição e oração do bispo ordenante, é ministério de reconciliação.
Há no Evangelho segundo João uma passagem que ilumina seu serviço à nossa Igreja, o da formação de discípulos e dos futuros presbíteros. Trata-se do capítulo primeiro. Nele, dois discípulos de João Batista põem-se a seguir Jesus, apontado como Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). Ao perceber seus seguidores, Jesus faz a pergunta: “Que procurais? … Os discípulos de João desejam passar para o lado de Cristo, daí a questão: “Mestre, onde moras?”. Jesus lhes responde: “Vem e vede” e os dois permaneceram com ele. Também este tem sido o seu serviço na Diocese: auxiliar os seminaristas a sentirem o fascínio por Cristo, Mestre e Senhor. Por esse serviço, rendo graças a Deus e lhe digo: “Muito obrigado”.
A leitura do Evangelho é oportuna nesta celebração do jubileu de prata do padre João Antônio Junior. Trata-se da narrativa lucana da anunciação, onde dois corações se abraçam: o coração de Deus e o da criatura humana. De um lado, o respeito divino por sua obra, uma vez que esta goza de liberdade e inteligência; de outro lado, a grandeza do sim de Maria ao acolher generosa e livremente o plano do Pai Celeste. Nesta admirável página da Sagrada Escritura contemplamos a infinita misericórdia divina e a prodigalidade humana de corresponder à expectativa de Deus. Cada padre também é padre do sim generoso a Deus que o chamou com clamores de amor, como os grandes vocacionados recordados nesta celebração: Jeremias e Maria Santíssima.
Que a Serva do Senhor, padroeira de toda a América Latina, a Virgem de Guadalupe, cuja solenidade foi celebrada dia doze deste mês, o tenha, padre Juninho, sempre na íris desta nossa caríssima e amada Mãe de Deus.
Parabéns! Que o bom Deus o recompense, enchendo-o de alegria no seu serviço eclesial.
Ad multos annos!
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