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Homilia Missa da Unidade, por Dom Paulo Francisco Machado

HOMILIA
Missa da Unidade
Dom Paulo Francisco Machado

O louvor ao Pai, pelo Filho, no dinamismo amoroso do Espirito Santo, é sempre o motivo principal de nossa celebração, de nossa ação de graças, à qual se associam a todos nós o Verbo encarnado, morto e ressuscitado, Jesus, o Cristo, os anjos, os santos e toda a Igreja. Mas hoje, também temos outros motivos para celebrar esta Ceia do Senhor com mais solenidade: a ordenação diaconal de Danilo César Carrara Ramos e a missa da unidade que fui obrigado a procrastinar. Serão apresentados a nós o óleo dos enfermos, a ser usado para cura e revigoramento na fé, quando acometidos por grave doença; o óleo dos catecúmenos, para nos fortificar e enfrentar os desafios de viver em Cristo e, finalmente, o Santo Crisma que nos consagra a Deus para o serviço dos irmãos.

Vivemos dias sombrios (atra nubes) devido ao corona vírus a contaminar milhões de pessoa em todo o mundo e a se espalhar violentamente sobre a nossa querida pátria. Em tal circunstância, apossa-se de nós grande angústia, ansiedade, medo que nos paralisa e entristece. As missas não contam com a presença do povo, redução drástica na convivência social, falta-nos o abraço, o sorriso escondido por máscaras e até um simples aperto de mão. Necessitamos de força e, como o antigo povo de Deus, fazer a memória de nosso passado para reconhecer, agora, que é a invisível Mão de Deus que nos conduz.

Convido meus irmãos aqui presentes e, até mesmo, aqueles que nos assistem pelas redes sociais a trazer asas para os nossos pés, fortalecidos pela fé, a visitar o nosso coração onde se encontra aquele que é intimíssimo a nós, segundo expressão de Santo Agostinho, o Deus Uno e Trino, pois desde o Batismo, na força da Graça, fomos habitados pela Trindade. É no altar do coração que adoramos o Deus verdadeiro.

Posto isso, abramos o mapa histórico/geográfico sobre os joelhos de nossa alma e façamos a Cartografia do coração, a recordar lugares e tempos, até chegarmos nesta Igreja Catedral, em Uberlândia, sede da Diocese, justamente no dia 04 de agosto, na memória litúrgica de São João Maria Vianney, o cura d’Ars, santo padroeiro dos padres.

Iniciamos a viagem: Onde estamos? – No lugar, no início de meu início, de nosso nascimento e de criação. Jesus era belemita mas nunca deixou de amar a aldeia onde se criara. Vindo de ambiente urbano, suburbano ou rural não podemos nos envergonhar de nosso passado, do lugar e das pessoas que acompanharam nossos primeiros passos na vida.

Visitemos aqueles primeiros dias de vida: os nossos pais, a alegria que ainda não podíamos expressar condignamente ao divisar com clareza os traços das pessoas amadas: a mãe, o pai, depois os irmãos, os avós e, enfim, toda a família. O círculo se aumenta com os primeiros amigos e colegas. Na tela do coração emergem tantos rostos, estimados, queridos.

Como não agradecer a Deus ter nascido no Brasil, uma terra marcada desde seu início pela Santa Cruz? Como não reconhecer a grande graça de nascermos em país cristão e receber, ainda pequenino, o batismo?

Vieram os primeiros anos de estudo. Em nação onde ainda há tantas pessoas que não distinguem as letras do nosso alfabeto, foi-nos dada a grande oportunidade de estudar, mas também de brincar. Os fundamentos de nossa s vidas foram edificados no amor. Que tal recordar os primeiros brinquedos, os jogos e os folguedos. A alegria sempre nos acompanhou. Veio a descoberta do sagrado em tantos sinais: a igreja, a capela, o altar, a missa, o terço debulhado pelos dedos dos avós, o crucifixo, os santinhos. Tudo deve passar, com reconhecida gratidão, pela tela do coração.

Pelo mapa, chego ao seminário. A vocação obra de Deus, mas mediada por algum padre que foi me tornando desejoso de encontrar sentido para a vida num amor maior. Com quem conversei sobre a minha vocação, quando visitei pela primeira vez o seminário e com quais seminaristas conversei? Quais desafios tive que enfrentar para iniciar a formação para o presbiterado? Quais foram as minhas primeiras impressões na casa de formação: os estudos, as orações, as missas, os colegas e irmãos no mesmo ideal? Minhas maiores dificuldades, os “anjos” que me animaram ou até mesmo enxugaram minhas lágrimas?

Passamos pelas várias etapas da formação: o leitorado, o acolitato. Momentos de tensão e ansiedade ao saber dos escrutínios. O diaconado chegou, como chega agora para o Danilo. Algo semelhante ao do que se passa nele neste instante, também ocorreu conosco. Deitado no chão da Igreja – onde se deu isso? – ainda tenho guardado no coração preciosos detalhes. Foi o momento em que me encontrava rendido à vontade de Deus, fazia de minha vida oferta à Trindade para o serviço do Reino.

O presbiterado chegou pelas mãos de qual bispo? Posso sentir ainda o perfume do santo crisma nas minhas mãos consagradas para o serviço do altar? Quem sabe posso ainda trazer ao coração a recordação do instante em que pela primeira vez, tendo em minha mão um cálice, pronunciei cheio de fé, mas também com grande emoção: “ Este é o cálice do meu sangue …”. Ou, quando pela primeira vez coloquei minha mão sobre a cabeça de uma pessoa, eu um pecador, dizendo, a partir da confiança que vem da fé: “eu te absolvo…”.

Rapidamente se avizinharam os sucessos, as comunidades avivadas na piedade, as pastorais ativadas, solícitas em evangelizar. Também vieram as primeiras incompreensões, as lágrimas, as calúnias… Destes instantes encontrei paz na partilha, no diálogo com um padre amigo, mas especialmente na busca do coração amoroso de Jesus a convidar-me “ Vinde a mim…”

Agora, a pandemia. A desconstrução de inúmeros sonhos, planos pastorais suspensos ou em ritmo dolorosamente lento. Estamos no olho de um furacão, entre fortes ondas do Mar da Galileia. Meu pedido: “Aumenta a minha fé, dá-me a certeza de que no fundo o Senhor da Criação dorme tranquilo. Nada tenho a temer, pois, “quem nos separará do amor de Cristo….nenhuma criatura pode nos separar do amor de Deus, manifestado em Cristo Jesus Senhor Nosso” (Rm 8).

ORAÇÃO:

Senhor, se estás tranquilo no fundo da barca, também eu estou. /Obrigado. Muito obrigado por me escolheres. / Tenho consciência da graça que me foi oferecida. /Preciso continuamente de tua ajuda para servir com fidelidade a Tua, e também minha, Igreja, esta que se encontra aqui representada na Catedral de Uberlândia.

Que Maria, a Tua e nossa mãe, pouse sobre os nossos fieis o seu olhar materno, pois sei que não podemos viver sem uma pitada ou, até mesmo, uma boa dose da ternura materna da Tua e minha mãe”

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