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O ELODAFE lhe deseja: um Feliz e Santo Natal

Natal de 2015. O mundo está sob a égide da misericórdia. Fomos postos sob a face bondosa de um Deus que não se cansa de contar com o ser humano. Em sua pedagogia, o homem tem primazia sempre. Foi por causa dele que Ele tudo fez: céus e terra, mares e rios, peixes e animais, feras do campo e flora multifacetada.

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Por amor, ao chamar à vida todos os seres, e como ápice e obra-prima de sua criação, o Ser Humano, Deus decidira que um da Trindade iria assumir aquelas feições tão frágeis, para aprender com ele o que viria a significar isso: ser gente. Deus, no Filho, tomou para si os sulcos do tempo e deixou-se transpassar pela nossa constituição mais profunda; nossa carnalidade.

Logo, a divindade imaterial de Deus, cuja presença não se deixava fitar, tomou para si nervos e ossos, sistemas e órgãos, e em suas veias um sangue unicamente humano passou a percorrer todo o seu ser. O Totalmente Santo agora era homem como nós, em tudo: possuía, como suas criaturas, uma carne de desejo, de vontade e de inclinações profundas. O Filho, Senhor de tudo com o Pai e o Espírito, aceitou ser homem, sujeito ao tempo e ao espaço. Adquiriu nossa fraqueza humana e provou, como nós, o gosto amargo dos dias que passam. Conheceu nosso fardo mais pesado e nossa limitação em ver para além de nós mesmos.

Em Jesus, a Palavra de Deus humanada, Deus se fez criança, o mais frágil dos seres humanos. Quis aprender a falar com o homem, do jeito do homem para, desse modo, compreender-nos sem reservas. Provou de nossa solidariedade mais altaneira, mas foi vítima de nossa pior manifestação de horror: foi perseguido e quase morto e não lhe deixaram nascer num local adequado para um recém-nascido. Acolheram-no os animais, que lhe cederam o coxo para berço no qual se alimentavam e deram-lhe de seu feno e de seu bafo para aquecê-lo naquela noite. Mais tarde, Ele mesmo se apresentaria como “alimento vivo para a vida eterna”.

Vindo da parte de Deus, o Filho não teve regalias. Não nasceu em palácio nem contou com um sem fim de aparatos reais. Sua presença só foi notada pelos simples e pequenos deste mundo. Apenas algumas mulheres e alguns homens, mais atentos, puderam perceber que algo de extremamente belo e importante acontecia naquela noite densa, aclarada por uma estrela reluzente, naquele local inóspito e naquele tempo insuspeito. Somente os corações dispostos de pastores rurais e de homens letrados, atentos aos astros, se deram conta de que um menino nascia para o bem de todos. É que diante de uma criança que nasce todas as esperanças se renovam, e o mundo terá sempre uma possibilidade de ser melhor. Uma criança é um mundo de possibilidades.

Diante daquele ser, indefeso e pequeno, que necessitaria do tempo e de terceiros para se afirmar como gente, habitava Deus, escondido e entremeado na carne humana, com fome e sede, com frio e medo, com aspirações como de todo e qualquer recém-nascido: de ser ninado, acarinhado e protegido nos braços de sua mãe. Ele chorou a dor dos pequenos. A luz forte da lamparina cegou por um instante seus pequenos olhinhos e ele teve medo do mundo novo que se abria para ele ao sair do útero de sua mãe.

O que teria forçado Deus a tomar esta decisão tão escandalosa?

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O seu amor travestido em vestes de misericórdia. Pois, nenhuma outra força seria capaz de tamanha ousadia. Foi o seu desejo autêntico de compreender o homem, de andar ao seu lado, de calçar suas sandálias e de experimentar como ele o calor sufocante dos dias quentes e o suor que rega a face humana, o frio cortante das noites e a exigência atroz de enfrentar, todos os dias, as rachaduras da vida, suas incongruências e o seu labor mais exigente: viver.

Engana-se quem pensa ou proclama que foi o pecado o artífice da encarnação de Deus. O pecado, que ultraja e desconfigura o homem, nada tem de humano. Pecar não é humano. Por isso Deus não pecou e não o assumiu em seu processo encarnatório. O pecado é uma ofensa gravíssima a Deus e ao ser humano. Ele adentrou o projeto de Deus sorrateiro como uma serpente, vinda sabe-se lá de onde, e quis boicotar o projeto de amor e de amizade entre Deus e sua criação. Deus não permitiu.

Ancorado em sua misericórdia, Deus revelou explicitamente ao homem sua face mais bondosa: convidando a criatura a manter-se sob a égide de sua paz, de sua presença salvadora e de seu abraço perdoador. Se ferido pelo pecado e fragilizado pela culpa e pela pena, o homem é convidado continuamente a levantar-se apoiado no cajado do “Bom Pastor”; se maltrapilho e tresmalhado pelo caminho, aviltado e atingido pelos estilhaços da dor e do mal, a deixar-se levar pelos ombros daquele único capaz de colocá-lo no colo e, mesmo em meio às piores desumanidades, a chamar-lhe de “filho”.

Não foi o pecado de nossos primeiros pais que obrigou Deus a se tornar gente. E jamais será o pecado a ter a última palavra. Nem mesmo no espiral do horror e da morte, com o assassinato do Filho, o Pai, rico em misericórdia, se deixou levar pela espiral da violência. Pelos códices da moral, Ele, o Pai, teria direito à vingança. Ele não a quis. Rejeitou-a em nome do perdão e da reconciliação. A vida teria mais força e seria a última palavra lançada sobre a espécie humana. E esta ação de Deus veio carregada de salvação: possibilitou ao homem aprender com Deus o que significa tornar-se divino.

Afinal, nenhuma relação que se preze é unilateral. Ambos os lados contribuem com o processo de aprendizagem. E, se por um lado Deus aprendeu conosco a ser gente, nós, seres humanos, somos cotidianamente convidados a nos divinizarmos. E não há nada mais santo e mais humano do que isso: perdoar quem nos feriu, agir com misericórdia e acolher de bom grado quem se perdeu. Não condenar quem se extraviou pelo caminho, e não impedir que retorne ao bom convívio do lar quem um dia ousou distanciar-se para experimentar a liberdade fora do abraço acolhedor de Deus.

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Por, Pe. Claudemar Silva

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