A festa do Natal é sem dúvida um momento de suma importância para a comunidade dos cristãos, uma vez que representa o momento em que o Messias ingressa na história da humanidade, para salvá-lo do julgo do pecado. Todavia, apesar do seu significado tão bem expresso na liturgia, nas celebrações; muito pouco valerá celebrar o Natal, se o espírito do Natal, ou melhor dizendo, se o amor e a humildade com que Jesus se apresenta para nós, não permearem também a nossa vida – as nossas ações cotidianas.
Papa Francisco em sua homilia na Missa do Natal destacou “Quão grande é a necessidade que o mundo tem hoje de ternura! A paciência de Deus, a proximidade de Deus, a ternura de Deus”. Esta ternura, esta paciência e esta proximidade de Deus, que o Papa destaca, se manifestam no encontro com o irmão, na atitude de abrir-se e doar-se àquele que está à sua volta. É preciso ir além das aparências – e como é difícil isso num mundo em que somos atacados por ideais de beleza, impelidos a forjar uma imagem nas mídias sociais etc. – é preciso ir além…
Antes de qualquer coisa, é preciso ter sempre em mente a forma como Aquele que veio para salvar o mundo, veio a este mundo. Como afirmou Padre Baltazar, em sua homilia na Missa de Natal no Mosteiro Monte Alverne “Jesus nasceu na periferia da periferia. Ele nasceu num curral. E é nesse curral, nesse estrume que é a nossa vida, o nosso coração, que ele quer nascer”. Ele não nasceu entre tesouros, nem buscou os puros, mas nasceu da forma mais simples e buscou aqueles que para a sociedade não tinham nenhum valor – os imundos, marginalizados.
Destaca-se no Natal a figura de um cristão singular, São Francisco de Assis, que vivenciou como poucos, o serviço ao Reino de Deus. Fr. Michael A. Perry, OFM, Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores, em sua mensagem para o Natal, salientou que “Durante toda sua vida Francisco sentiu comoção diante do fato de que Jesus, Filho de Deus e Filho de Maria, escolhera abraçar a condição dos ‘mais pequeninos’. Sempre preferiu a companhia dos que eram considerados ‘menores em relação aos’ outros, pecadores e samaritanos, pagão e cobradores de impostos. Os seus seguidores mais fiéis eram de condições sociais modestas: pecadores e ex-cobradores de impostos”.
São Francisco de Assis, que viveu no século XIII, recriou o presépio. Frei Regis Daher, OFM destaca que “Quando São Francisco de Assis, em sua instituição original recriou o presépio de Greccio, a expressão poética do natal, desejava experimentar e reviver na própria carne, o mistério e o encantamento, o amor e a dor, a contradição da glória divina revelada na pobreza do Filho de Deus”. E este santo foi muito além disso, viveu a pobreza e a caridade cristãs, servindo aos mais pequeninos.
Poderíamos nos perguntar então, como nos dias de hoje, onde vivemos sob a alarde midiático da insegurança, do consumismo e do individualismo, que nos distanciam cada vez mais das premissas evangélicas, praticar a ternura de Deus? Estar mais próximos dos irmãos? Servir aos mais pequeninos? É possível sim. E diversas pessoas, grupos têm demostrado isto. Como é o caso da Pastoral de Rua, da Diocese de Uberlândia, que vem realizando o trabalho de cuidado e acolhida dos irmãos em situação de rua na cidade de Uberlândia, já faz algum tempo.
E como é de costume, ontem (25), na festa do Natal, a equipe da Pastoral de Rua se uniu para proporcionar àqueles que se encontravam neste dia em situação de rua, em Uberlândia, um Natal digno e com a alegria que compõe esta data. Diversos agentes da pastoral e voluntários se empenharam para garantir para os irmãos encontrados pelas ruas da cidade, um Natal com alimentos, roupas limpas, banho, corte de cabelo, música e o mais importante, a proximidade e a ternura de Deus.
Tantos nomes, tantas histórias, e quanto amor! Ir ao encontro daqueles que nada têm e lhes proporcionar a alegria do encontro, a proximidade do coração, o amor de Deus, que veio e continua vindo ao nosso encontro. “Pois eu estava com fome, e me destes de comer; eu estava com fome, e me destes de comer; estava com sede, e me destes de beber; eu era forasteiro, e me recebestes em casa; estava nu e me vestistes; doente e cuidastes de mim; na prisão, e fostes visitar-me. […] todas as vezes que fizestes isto a um destes mais pequeninos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!” (Mt 25, 35-36; 40b).
Deus, em Jesus Cristo, se fez pequeno, assumiu a nossa pequenez e veio ao nosso encontro para nos doar o seu amor. Reconheçamos a nossa pequenez e a grandiosidade deste fato e nos esforcemos para seguir o Seu exemplo: de servirmos àqueles que mais necessitam, os quais a sociedade exclui, criminaliza e condena a uma vida vazia de sentido e repleta de dor. Olhemos para a além das aparências e aí veremos em cada irmão o rosto de Nosso Senhor Jesus Cristo – a face humana de Deus.
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Por, Leandro Oliveira – Repórter Especial para o ELODAFE
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