Reflexões Dominicais

Reflexão Dominical: 5º Domingo da Quaresma

Jesus não visitou o doente.
Homilia do 5º Domingo da Quaresma – Ano A
Pe. Joéds Castro
Padre diocesano de Uberlândia

Caros irmãos e irmãs, chegamos ao 5º Domingo do Tempo Quaresmal, iluminados pelo Evangelho de São João 11, 1-45, nesta liturgia que nos ajudará a tirarmos a última pedra para contemplarmos a “Glória de Deus” (Jo 11, 39).

Desde o primeiro dia da Quaresma foi-nos apresentado esse tempo como de profunda intimidade com Deus Pai, exemplificados na pessoa de Jesus, e com o objetivo claro de nos prepararmos para que, celebrando a ressurreição do Senhor, na Páscoa, nos alegrássemos na certeza da nossa permanente vitória em Cristo. Cada domingo litúrgico nos pôs em contato com a atual intimidade com o Pai Deus, Jesus em plena comunhão com o Plano/Proposta do Pai, Reino vencedor de todas e quaisquer tentações; Jesus em plena confiança na vitória do Reino/Palavra/Plano de Deus sobre todas as propostas de vida do mundo; Jesus fonte de água viva do amor e absoluta sintonia da vida humana, plenamente realizada e agora Jesus porta da eternidade.

Certa vez Jesus disse, ao se referir a fazer o bem aos semelhantes, que isto lhe fazia também referência, “estive doente e fostes me visitar” (Mt 25, 36 ); mas será que Jesus visitou seu amigo doente, como a outros visitou (Mt 25, 36)? Antes de chegarmos ao fim da vida é bom pensarmos: será que valerá viver na íntima amizade com a pessoa de Jesus?

O trecho desta santa liturgia nos coloca diante de uma situação delicadíssima, vale abrir a casa e a vida ao Plano de Deus, como esses três irmãos abriram à pessoa de Jesus? O texto diz que Lázaro (nome derivado do hebraico “Eleazar”, que significa “Deus ajuda”, belíssimo nome), amigo de Jesus, estava doente e as irmãs mandaram avisar-lhe (Jo 11, 1-3). Os versículos estão carregados de proximidade e intimidade, nos chamando a atenção para nossa abertura de vida, coração e atitudes realizadas à pessoa de Jesus e também atitudes realizadas por sua inspiração. O que você faria se soubesse que alguém que te ajudou, lhe deu até coisas caras, abriu-lhe a casa em hospedagem e te tem em alta estima, assumiu até riscos por sua amizade, lhe pedisse uma visita em hora dolorosa, você iria imediatamente? “Jesus ficou ainda dois dias no lugar onde se encontrava” (Jo 11, 4-7). O que Jesus quer mostrar aos seus discípulos naquele tempo e a nós nessa hora? Vale ser amigo de Jesus e orientar sua vida por Ele?

O texto do Evangelho não quer ser uma reportagem como as de antigamente, que nos colocavam diante da narrativa crônica dos fatos, pois as reportagens de hoje em dia são mais narrativas ideológicas do que exposição dos fatos, o Evangelho é um discurso teológico, pelo qual o leitor adentra pela vida dos envolvidos e dos acontecimentos no Plano de Deus, não somente informações temporais e pessoais, o texto nos abre da luz que parte de Deus, para o entendimento de nossa existência em sua história de salvação.

O diálogo que segue (Jo 11, 8-16) expõe as impressões, dos discípulos de Jesus, em avaliar ou reagir aos acontecimentos, de maneira condicionada em relação ao que as outras pessoas fazem ou pensam, assim partindo, suas preocupações e ações estão estritamente condicionadas pelos outros, vizinhos, pessoas importantes e de status na sociedade. Jesus ao colocar o paralelo “dia e noite”, nos indica que a vida do cristão não está condicionada ou age só como resposta ao que alguém lhe fez e/ou deu. Dizendo que age pela “luz do dia”, Jesus expressa a liberdade do homem e da mulher de fé, que vive a filiação divina, não faz algo a alguém, ou evita fazer, porque a pessoa é amiga ou inimiga; o Plano/Reino de Deus é que orienta a verdadeira liberdade. Muitos dizem: eu sou uma pessoa livre e não dependo absolutamente de ninguém, interessante, mas será mesmo? Muitos dizem: a vida é minha, mas vivem a opcional dependência dos pais; outrora dizem: quero ter minha liberdade, então pedem aos pais que paguem uma casa mobiliada, aluguel e comida; outros ainda, dizem que são extremamente independentes e se colocam em cargos de lideranças, sejam civis ou religiosas, criticando a vida dos que lhes favorecem boa vida ou recursos para se manterem e ainda se acham autônomos e livres. Jesus realmente mostra que quem é filho(a) de Deus não age por dívida moral (amizades) ou coerção social (judeus).

No tempo de sua liberdade, de Filho de Deus, Jesus vai a Lázaro, mas Lázaro vive o Plano de Deus e por isso Jesus diz que ele dorme, mas irá acordá-lo. Isto é belíssimo. A morte que parece interromper totalmente a história humana, na verdade, dentro da História e do Tempo Eterno de Deus Pai, não é mais que um breve sono. Jesus deixa claro que tem consciência da morte de Lázaro, Tomé assume essa morte. É preciso essa “parresia”, expressão grega que traduz a firmeza que Jesus falou-lhes “claramente”, ou seja, para nós isto deve também estar claro: Cremos de verdade que a morte no Plano de Deus não passa de um sono e que Jesus irá nos acordar
Jesus se depara com o peso das relações e intimidades condicionadas (Jo 11, 17-33). A situação é tensa, como é tenso estabelecer relações à base de troca ou amizades por comércio, “sei que o que pedires a Deus, ele to dará” (Jo 11, 22). Para nós é preciso essa clareza ao crer, o cristão não estabelece uma relação comercial com Deus Pai, independente do que acontecer e se for até mesmo a morte, o Plano de Deus prevalece, o que Jesus coloca de forma cirúrgica, “quem crê em mim, mesmo que morra, viverá” (Jo 11, 25). Portanto, não é porque seja “seu irmão” ou “meu amigo”, aquele que realmente aceita Jesus como “Caminho, verdade e vida” (Jo, 14, 6), independente de quem seja, ao viver o Reino/Palavra/Plano de Deus Pai, alcança a vida eterna. “Crês isto?”

Todos estão diante da morte ou da vida? (Jo 11, 34 -44). Jesus manda tirar a pedra, nós temos uma expressão interessante quando queremos dizer que algo está encerrado, “colocar uma pedra sobre o assunto”, será que a morte realmente encerrou a vida da pessoa que crê em Jesus? Como estamos acompanhando, a Palavra de Jesus vai colocando às claras as realidades deste mundo e a vida nele, ao trazer a força de Deus por esta Palavra à vida das pessoas, mas a Palavra de Jesus coloca também entendimento para fora deste tempo de condicionamentos das relações e entendimentos humanos, por sua Palavra coloca a vida das pessoas “cortadas da história” temporal pela morte e as insere na história eterna.

Depois de toda a teimosia em obedecer ou não Jesus – sempre uma dificuldade permanente nossa diante de algumas evidências ou situações negativas de nossa vida, ouvimos o “trovão” da voz de Jesus: “megalē ekraugasen Lazare”, que significa “fortemente chamou a Lázaro” (Jo 11, 43). Aqui é preciso “arregalar” olhos e ouvidos, pois aquele que provadamente estava morto, afirma o quarto dia de sepultamento, saiu! Eis a força da Palavra de Jesus em sintonia com a vida de quem a vive, lembremos, de boca aberta, há quatro dias em morte e ainda amarrado, mas pela Palavra de Jesus, mesmo morto continua a lhe obedecer. Será que morto pensa? Poderia Lázaro fazer o cálculo: já que Jesus não me ajudou quando eu estava doente, agora que estou morto não compensa mais lhe obedecer. A Palavra de Jesus que valeu para Lázaro, intimamente em vida, continua a valer-lhe após sua morte. Irmãos, que maravilha é realmente o que havia dito Jesus: “Essa doença serve para a glória de Deus” (Jo 11, 4). Eis a “Glória de Deus”, a pessoa em comunhão com Deus em vida e após a morte em vida eterna. Quem quer ouvir a voz de Jesus após a morte, trate de ouvi-lo enquanto tem vida.

“Desatai-o e deixai-o caminhar” (Jo 11, 44), aqui é belíssimo meus irmãos, Jesus afirma que é a Vida, a Verdade e o Caminho, mas caminho para onde? Diz Jesus: “Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14, 6), quem crê em Jesus e escuta sua Palavra, em obediência, vive plenamente nesse tempo peregrino e ressuscita para a vida eterna, ou seja, vive em Deus, está no Pai e para o Pai de Jesus se encaminha. Há pessoas com relações amarradas, apegadas e de “pedras no sapato”, estas não só apegadas às “coisas boas da vida” e de outras pessoas, mas que não deixam outros nem mesmo chorarem sozinhos (Jo 11, 31); há pessoas tão apegadas que não aceitam nem a separação da morte. É preciso desamarrar, é preciso compreender que só há vida livre e plena em Jesus Cristo, Nele não há comércio, com ele ou através de quem lhe aceite como proposta de vida, praticando o Evangelho. A vida cristã é vida livre nesse tempo e ao tempo eterno.

“Muitos dos judeus que tinham ido à casa de Maria e viram o que Jesus fizera, creram nele” (Jo 11, 45), lembremos que estes judeus faziam parte dos que desejavam apedrejar Jesus, mas diante dos acontecimentos/testemunho com os discípulos de Jesus, até discípulo morto, agora representados pela patrona da casa e da comunidade dos que creem, Maria, esses inimigos passam a experiência do crê em Jesus, como seu Salvador. Creiamos com firmeza, façamos a experiência libertadora em Cristo, abracemos a vida eterna sem medo e apego. Tenhamos coragem de tirar a “pedra” do medo da morte, ouçamos a Voz troante de Jesus, Pastor Eterno, sejamos suas ovelhas nesta vida para as pastagens eternas.

Neste tempo difícil e de receios, precisamos olhar bem as realidades, caso contrário, mesmo as vendo, não as compreenderemos. Dia 27 de março de 2020, o PAPA Francisco presidiu a celebração da esperança, concedendo a benção Urbi et Orbi, nas dependências da Basílica de São Pedro, em Roma. Muitos olharam e viram um homem pequeno e solitário, pensando no passado de praças e igrejas cheias. Porém, o que ali acontecia?

O PAPA REZA SOZINHO? O PAPA NÃO ESTÁ SÓ! “Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, te dará a recompensa” (MT 6, 6). Essa é a absoluta certeza do homem e da mulher de fé, ESTAR SEMPRE NA PRESENÇA DE DEUS P A I. Rezando ou não o cristão sabe, está na presença do Pai Deus, “Se subir até os céus, ali estareis; se descer à região dos mortos, lá vos encontrareis também” (Sal 138, 8).

Ali estava o Senhor Crucificado. Cristo no momento de sua entrega, não morte comum, pois Ele é tão Senhor da vida, que sua morte só pode acontecer porque entregou sua vida em definitiva prova de confiança para a humanidade, pela morte nas mãos do Deus, P A i. Sem nenhum de seus tão próximos discípulos, Jesus não estava só, “Clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23, 46), O Filho de Deus sempre está com o Pai Deus.
Jesus nunca esteve só, mas sempre na presença do Deus Pai, o PAPA nunca esteve só, mas sempre na presença de Deus Pai, eu nunca estou ou estarei só, mas sempre na presença de Deus Pai e você que é filho e filha de Deus Pai nunca estará sozinho, mas sempre na presença em pessoa do Pai, pelo Filho no Espírito Santo, “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos.” (Mt 28,20)

Deus está onde você está. Para alguns, isso assusta, pelo orgulho na tentativa infantil da autossuficiência, mas para outros, isto encoraja e anima para um dever e poder continuar a amar até os inimigos!

Algumas pessoas neste tempo descobriram que suas vidas não estão a sós, pela permanente ameaça externa, outras pessoas vão descobrir que realmente Deus está cuidando e que é preciso procurar sua Palavra, os cristãos por sua vez, todavia, continuarão a mais se entregar ao Pai, como Jesus o fez, nas mãos amorosas do Pai, ainda mais agradecer-lhe e viver seu Plano de amor. Graças a Vós, Senhor!

Creiamos irmãos e irmãs, firmemente creiamos. O Senhor está conosco mais perto que irmãos, parentes e amigos, sem nos prender, sobrecarregar ou sufocar. Ouçamos sua voz a nos tirar dos sepulcros e amarras desta vida e conduzir-nos para a vida eterna. Deseje de todo o coração a vida eterna, a voz do Senhor lhe conduzirá à Páscoa. “Crês isto?”

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