Reflexão sobre o 20º Domingo do Tempo Comum – João 6,51-58. No Brasil, a festa da Assunção de Nossa Senhora (celebrada no dia 15 de Agosto e cuja reflexão foi publicada pelo Dom Total nesse sábado, 18) substitui a liturgia do domingo próximo.
De acordo com o relato de João, mais uma vez os judeus, incapazes de ir além do físico e material, interrompem Jesus, escandalizados pela linguagem agressiva que ele emprega: “Como pode ele nos dar de sua carne para comer?”. Jesus não retira sua afirmação, mas dá a suas palavras um conteúdo mais profundo.
O núcleo de sua exposição nos permite adentrar na experiência que as primeiras comunidades cristãs viviam ao celebrar a Eucaristia. Segundo Jesus, os discípulos não precisam apenas crer nele, mas devem alimentar-se e nutrir suas vidas de sua mesma pessoa. A Eucaristia é uma experiência central nos seguidores de Jesus.
As palavras que se seguem não fazem senão destacar seu caráter fundamental e indispensável: “Minha carne é verdadeira comida e meu sangue é verdadeira bebida”. Se os discípulos não se alimentam dele, poderão fazer e dizer muitas coisas, mas não esquecer suas palavras: “Não tereis vida em vós”. Para ter vida dentro de nós, necessitamos nos alimentar de Jesus, nutrir-nos de seu sopro vital, internalizar suas atitudes e seus critérios de vida. Este é o segredo e a força da Eucaristia. Só o conhecem aqueles que comungam com ele e se alimentam de sua paixão pelo Pai e de seu amor a seus filhos.
A linguagem de Jesus é de grande força expressiva. Ele faz esta promessa a quem sabe se alimentar dele: “Este habita em mim e eu nele”. Quem se nutre da Eucarística experimenta que sua relação com Jesus não é algo externo. Jesus não é um modelo de vida que imitamos desde fora. Alimenta nossa vida desde dentro.
Essa experiência de “habitar” em Jesus e deixar que Jesus “habite” em nós pode transformar radicalmente nossa fé. Essa troca mútua, essa estreita comunhão, difícil de expressar com palavras, constitui a verdadeira relação do discípulo com Jesus. Isto é segui-lo sustentado por sua força vital.
A vida que Jesus transmite aos seus discípulos na Eucaristia é aquela que ele mesmo recebe do Pai, Fonte inesgotável de vida plena. Uma vida que não se extingue com nossa morte biológica. Por isso que Jesus ousa fazer esta promessa aos seus: “Aquele que come deste pão viverá para sempre”.
Sem dúvida, o sinal mais grave de crise da fé cristã entre nós é o abandono tão generalizado da Eucaristia dominical. Para quem ama a Jesus é doloroso observar como a Eucaristia vai perdendo seu poder de atração. Mas é mais doloroso ainda ver que, da Igreja, assistimo a isso sem nos atrevermos a reagir. Por quê?
Por, José Antonio Pagola
Via Dom Total
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