Reflexões Dominicais

Reflexão Dominical: Festa de Todos os Santos e Santas de Deus

Um Santo ajuda?
Homilia de Todos os Santos e Santas de Deus.
Pe. Joéds Castro
Padre diocesano de Uberlândia
Caros irmãos e irmãs, o capítulo 5º, do Evangelho de Mateus, é consagrado na lembrança de muitos pelo “Sermão da Montanha”, onde Jesus havia anunciado as “Bem-Aventuranças”, estas como centro de sua reflexão. No entanto, é preciso recordar que a centralidade é o Reino do Céu (Mt 5,3ss), as bem-aventuranças estão em relação a este Reino, Reino que pertence a Deus, o que em grego se diz “basileia tou Theou”, que não é tanto somente para a geografia de um local, mas para a ação do reinar de Deus. Recordemos em Mt 4, 8, o diabo havia conduzido Jesus ao “monte” e de lá mostrava-lhe os reinos, ou seja, os poderes que condicionam, não somente às geografias, mas a orientação das mentalidades e atitudes dos modos das pessoas agirem nestes contextos pelo olhar do diabólico. Jesus por seu turno e missão conduz seus discípulos, aqueles que vocacionou a ajudar a salvar pela “pesca de homens” (Mt 4, 19), vai mostrar-lhes deste lugar alto, possibilitando ver muito mais do que talvez quem olha só por si.
Os cristãos devem estar conscientes que, as opções do discipulado em Jesus estão em enxergar as realidades por esta lógica ampla e não reduzida, até mesmo egoística do pensar diabólico. É essencial a clareza da lógica do Reinado/Plano de Deus, caso contrário, se desvirtua o sentido da vida cristã em utopia e resignação, frente às durezas das imposições por lógicas mesquinhas, condicionando as lutas e trabalhos pastorais vão se perder em contrapor a lógica diabólica, mas utilizando talvez, por seus próprios meios, ou seja, o desejo do domínio, o tomar a posição do outro, para após aplicar a mesma sentença de vida que antes sofria quem reclamava destas coisas na vida. Uma troca de cadeiras de opressores e opressões, em conjunta demonização alheia, e não a vida na sua amplitude, que Jesus denomina de vida plena.
O Reino de Deus é o absoluto da vida cristã e por este se deixar orientar, contudo, não mero sofrer pelo sofrer, empobrecer-se por empobrecer, mas opção consciente e consagrada no profundo do espírito (Mt 5, 3). Qual o entendimento por Reino de Deus? Por Reino de Deus deve-se tê-lo como uma vida tão plena na terra que parece ser ou já viver o céu na terra. Eis o ponto chave que Jesus mostra como mais alto para a vida de quem quer e para nós que desejamos a vida plena, isto que não virá, Jesus afirma o Reino “é”, o Reino é de Deus e Deus concede nestas pessoas que o vivem como maior opção de suas vidas.
Como Reino “é”, mostrado por Jesus nestas condições tão variadas de vida, agora Jesus mostra o que “são” também seus discípulos, o que cada pessoa que faz opção por viver o Plano de Deus significa. Uma pessoa não é só para si, a pessoa significa aos outros, ou seja, tem importância aos outros, e os discípulos de Jesus devem ser estas pessoas conscientes de sua significância e importância para a existência das outras pessoas. Ora, há pessoas que suas vidas são marcadas pela presença das outras pessoas, pensemos quantas pessoas passam por nossa vida e que marcas essas nos ofereceram. Alguns dizem que alguém até mesmo os traumatizou. Os discípulos de Jesus, os cristãos, são chamados nas alturas desta montanha a perceberem sua importância no Reino de Deus, ou seja, nós cristãos precisamos de auto e permanente consciência de nós ou do meu eu em referência aos outros; para isso a Santa Mãe Igreja nos dá oportunidade de nos alegrarmos celebrando a Solenidade destes que buscaram o Reino como o máximo para suas vidas e consequentemente, na sua alegre realização, encheram a vida de outros de bondade e auxílios tão necessários.
O texto evangélico desta Solenidade de Todos os Santos e Santas de Deus em Mateus 5, 1-12ª, nos faz ouvir coisas que parecem contraditórias, como “Bem-aventurados quem caluniado ou perseguido” v11, é preciso aguçar e estender no tempo os ouvidos de quem crê, para que em nossa distância compreendamos o que Cristo diz através da eternidade. Essa expressão “Bem-aventurados” está no (g)rego, mas com uma raiz bonita do (h)hebraico, “Bem-aventurados (g) “Makárioi” / (h) “‘ashrê” – os pobres [(g) ptõchoi] em espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5, 3). Rapidamente acostumamos dizer que se traduz por “Felizes” de uma forma estática, mas quando tomamos a bem-aventurança no seu “paço” notamos um “passo”, é feliz não por um aguardar que algo venha do céu, mas justamente feliz por se colocar a caminho desta bênção por este Reino do Céu que vai de passo a passo, passando do pequeno (ptôchoi) e humilde, à realidade maior que não se conforma nem mesmo com a grandeza só do mundo administrado pelos homens nas suas “pretensas e altas sabedorias”, em espírito humilde vai buscando o melhor do que os homens podem oferecer, mas afortunadamente se abastece e só se enche ou consola além da pobreza da materialidade que enferruja.
Esta é a recompensa que os cristãos, os santos e santas se dispuseram a praticar, viver e participar. O Reino de Deus não é para depois da morte, como uma cidade em campos de nuvens, este Reino/Reinado/Governo/Orientação é para agora, essa recompensa também não está para o depois, em Deus já é agora e se estenderá à eternidade. Por isso os cristãos não são pessoas acomodadas e não só se incomodam com as vidas alheias, mas se incomodam principalmente com suas próprias e “ambiciosamente” procuram o melhor para si e coerentemente serem melhores aos semelhantes ou não. Primeiramente buscam si saciarem em tudo de bom e sabendo neste mundo o que é bom, mas não é absoluto, buscam mais, portanto buscam a qualidade na experiência da fé e se entregam à totalidade da alegria em Deus (Jo 15,11). Lembremo-nos de santos como Irmã Dulce e Francisco de Assis, procuraram se saciar e satisfazendo-se dia a dia em Cristo se fizeram comunhão aos outros, levando outros perto deles, mas todos também à fonte, que é Cristo.
Detalhe importante, uma (1) Dulce, um (1) Francisco, a quantas centenas de pessoas ajudaram e quantos anos permanecem a fazer-lhes muito bem? Interessantíssimo. Por isso a Igreja é, e tem responsabilidade de ser a casa dos santos e santas; embora ela não precise de muitos santos, pois uma Santa Dulce pode ajudar uma Bahia, um Francisco pode ajudar uma Itália, então a Igreja não precisa de muitos santos e santas, mas também ela não precisa de nenhum “capetinha” a infernizar a vida de outras pessoas; se santos pouco, capetinhas nenhum! Que os que receberam o batismo sejam e vivam a vocação natural do cristão e cristã fiéis, a santidade, esta que é alegria de quem caminha no bem do Evangelho e se realiza, tanto que para muitos faz sobrar o bem pelo caminho da existência terrena, mas é tanto bem que ainda na vida eterna ajudam tantos outros a também buscarem essa vida de recompensa e de qualidade maior em Deus, intercedendo a Jesus, Salvador e fonte de toda forte graça.
Você tem nome de algum santo, já conhecido ou será o teu nome o de um futuro santo (a)? Qual teu Santo de devoção? Você nasceu no dia que a Igreja Venera qual Santo (a)? Qual Patrono de sua Paróquia ou Comunidade? Muitos fazem turismo religioso e ficam tristes por não poderem tocar na imagem do Santo Padroeiro da peregrinação, mas será que retiram a poeira do Padroeiro de suas comunidades locais? Vamos nos achegar mais perto destas pessoas santas que estão em nossas comunidades e todos mais perto de Jesus Cristo estaremos. Belíssima é a comunhão dos santos, os peregrinos rezando pelos que triunfaram e os triunfantes intercedendo por nós que estamos humildemente peregrinando (ptõchoi) pela vitória de cada dia, mesmo que para isso, precisemos derramar suor, lágrimas e se for o caso, o próprio sangue pela vida plena.
Saiba que o céu inteiro está torcendo e intercedendo por você junto a Cristo, Ele que tudo venceu para que você também vença com toda honra de quem crê.
Amém.

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