Reflexões Dominicais

Reflexão Dominical: Tudo acabou na cruz

Tudo acabou na Cruz…

Por Pe. Joéds Castro

Com esta Santa Celebração do 34º Domingo se encerra solenemente o ano litúrgico, todo iluminado pelo coração, olhos e lábios do evangelista São Lucas, a quem agradecemos como Teófilos . Este ano que nos fez acompanhar Jesus libertando os aprisionados que encontrou pelo caminho, tornando-os semelhantes, não só a pessoas boas deste mundo, mas herdeiros da mesma vida que o Filho de Deus, Ele que agora enfrenta a última das tentações desse mundo.

Toda a vida de Jesus foi perene enfrentamento de tentações, pensar em si ou através de si participar do Plano/Reino de Deus, o agir do Cristo nos leva a crer com firme certeza que somente uma pessoa livre pode ir e conduzir outros ao “paraíso”, causando até mesmo nos mais desesperançados o desejo ultimo de participar deste modo de vida. Não comum arrependimento e lamento de erros passados, como alívio de consciência de quem deseja tirar ao menos um olhar de piedade, “cicuta” estranha que qual morfina alivia uma dor que não vai parar. Realmente olhar em Jesus e ver que há mais vida. Que mistério, vê-lo morrer e desejar sua vida, participar deste amor divino, onde os olhos agora olham e enxergam. Em Cristo tudo é vida e sua morte derradeira mostra vida verdadeira. Que mistério!

Eis o porquê Jesus é colocado no meio dos bandidos mais perigosos (Lc. 23,33), mais perigosos até que Barrabás, este que era um homicida, pois Jesus não mata ninguém e sim liberta pessoas para a vida. Colocá-lo em meio aos bandidos pode até confundir a “massa de manobra”, no entanto, revela o que Ele significa para os poderosos que usam do povo (Lc. 22,2). Uma pessoa cheia de amor e livre é mais perigosa que um assassino armado, assim é o Filho de Deus, não precisar matar uns para salvar-se ou salvar outros, mas sem vingança salva e liberta a todos.

O perigo mais horrível com que os mandatários do povo puderam deparar foi alguém que vence a força mortal da violência sem recorrer ao mal ou ao uso de força vingativa, porém Jesus na sua tenacidade pacifica ultrapassa objetivos que independem da derrota de outros para alcançar a felicidade da vitória. Aqui um gravíssimo alerta, somente quando levarmos a serio nossa fé e esperança é que os outros nos tratarão como pessoas serias.

A confusão está posta, no meio dos bandidos e tomado pelos “impensantes” e acompanhantes da rotulação dominante se faz ouvir a tentação em uníssono: “Se és o Cristo, o escolhido, salva-te”, isto com uma memória que parece não ajudar a constatação da verdade, pois “se a outros salvou” (Lc. 23,35) por que não se salva? Em suas chacotas quase que deixam a entender que sabem da sua força e poder, e justamente não aceitam que não mostre conforme os moldes de sobrevivência extrema uma fuga, ou seja, sua agonia silenciosa também leva a agonia histérica seus algozes (Lc. 23,36). Nós também nos questionamos o porquê de não liberta a si mesmo? O que falta libertar? O que está esperando? Quem está esperando libertar? O chamado por tradição de mal ladrão, até recebeu o nome de Gestas em texto apócrifo de Nicodemos, parece não ser tão estranho se olhado mais de perto, quase se torna um espelho a refletir a imagem de quem o olha. Seu Deus não o vingará, pois sendo Deus amor conforme tão bem Jesus clareou, não pode vingar um filho no outro, mesmo que esse seja seu Primogênito (prôtótokos). “Filho do seu amor” (hyiós tês agápês autoû) (Cl 1,13).

Jesus, Filho de Deus, libertou os que sofreram o mal, como ele agora sofre intensamente, agora então precisa livrar e salvar quem fazia o mal e fazia os outros sofrerem, completando o rebanho composto de joio e trigo. Este é o verdadeiro filho de Deus que se fez irmão de todos, bons e maus, trazendo o verdadeiro perdão do Pai a todos (Lc. 23,34). Jesus não seria o Filho de Deus caso se salva-se a si mesmo, justificando a mentalidade diabólica igual a deles, onde quem tem poder se vale dele para humilhar e derrotar os outros. “Salva-te a ti mesmo e a nós” (Lc. 23,39), pois se faz assim nada mais que estaria a validar a vingança e a força do poder. Pensa so em si? Ama só a si? Deseja só a si? tudo faz para o bem de si?

Quem “não teme a Deus” (Lc. 23,40) mesmo sofrendo não se intimida em querer abusar e usar dos outros mesmo no sofrimento, não desiste do mal, mesmo sofrendo suas consequências idênticas. No entanto, quem aceita o amor solidário de Jesus desiste da antilógica e abraça a lógica do Reino do Pai (Lc. 23,42). Agora ouvimos a voz do Rei/Pastor, porque este é Jesus que toma a ovelha perdida, esta que machucada e ferida pelo mal que fez aos outros e a si mesma, Ele a coloca nos ombros e a reconduz ao paraíso, plano inicial de Deus. O homem que pelo pecado havia se afastado do plano/reino/paraíso de Deus, agora em Jesus é reconduzido a este. O Bom Pastor mostra que nem o pecado distancia a criatura do amor do Criador. A vida do ser humano frágil e limitado não é para ser uma lembrança para o Ser Eterno (“lembra-te de mim”), com Cristo ressuscitado a pessoa não será bem lembrada abstratamente, mas estará pessoalmente como realidade vivente e atuante em bom lugar de maneira concreta, “hoje estarás comigo no paraíso” (Lc. 23,43).

Portanto, Jesus não terá na memória a lembrança do que foi a pessoa, mas terá a pessoa mesma, viva, concretamente onde Ele mesmo está (Jo. 14,3), não será uma pessoa morta que estará viva na boa memória e sim uma pessoa viva no real presente continuação eterna da história. A vida humana não é história a se lembrar ou se esquecer, é vida a ser bem vivida e em Cristo continuada. O Reino de Deus não permanece de boas lembranças, são pessoas vivas e testemunhas vivas umas as outras, no tempo e para além do tempo.

Esse é o panorama que se vê desvelar do alto da Cruz, desta altura da Cruz Salvadora é possível enxergar no horizonte a porta do redil eterno, Jesus que chega conosco nos ombros ao paraíso. Então como disse São Paulo se morremos com Cristo, com Ele nós também viveremos eternamente (Rm. 6,8). Por graça Jesus cumpre sua palavra salvadora: “Quando for elevado atrairei todos a mim” (Jo. 12,32).
Jesus Rei/Pastor conduz a humanidade toda ao plano inicial de Deus o paraíso, este que por causa do pecado foi negado pelo ser humano, conforme o relato do livro do Gênesis, com o sangue de Cristo é escrito a nova e definitiva história, não mais a lista dos que foram colocados para fora do Paraíso na perdição, mas a lista dos que foram incluídos na salvação.

Que Jesus reine e nos pastorei, pois vivendo o seu reino experimentamos as delicias do paraíso, eis porque nosso coração pela esperança procura a felicidade diariamente, o paraíso não ficou no passado, mas é o que nos espera. Portanto, ouçamos sua voz todos os dias levemos a serio seu evangelho, vivamos em paz com todos, porque todos estarão na paz, antecipemos o paraíso levando a todos como irmãos e irmãs a experiência da salvação, como Jesus, silencioso, não fujamos da cruz, desejando colocar ou abandonar nela outros, Ele nos ensinou a ultima lição, quando tudo estiver parecendo perdido confiemos no Pai Amor/Perdão, porque essa é a confiança visível e misteriosa do Filho de Deus, confiou toda sua vida no Plano/Reino de seu Pai, agora confia sua morte às mãos do Pai.

Cristo não parece morrer, Cristo morre, e sua morte é prova de vida e que há mais vida na vida, tanto que até em sua morte o malfeitor ao seu lado a enxerga nítida, certo de sua morte, não romantiza, tem e apresenta sua confissão e não se sente julgado, em Cristo Crucificado de amor faz a experiência de sua hora e pessoa, como cada um a seu tempo, faz neste encontro único a experiência verdadeira, Deus Pai ama seu Filho, quer o malfeitor, condenado pelos outros e confirmado por si, também quer ser com o Cristo entrar no Reino e Jesus lhe garante, hoje sentirás o que é ser amado por Meu e Vosso Pai.

Olhemos para cruz e quem veremos? Jesus. Olhemos mais o Crucificado e procuremos os olhos do chamado pela tradição de Dimas. Sem medo nos coloquemos diante de Jesus crucifixo, suspendamos por um pouco de tempo nossos tantos trabalhos, quem sabe até mesmo diariamente, busquemos neste Cristo a explosão de vida que esse ladrão fez experiência de alivio na suas dores derradeiras, desejando e contentando só ser lembrado.

Faremos a experiência de sermos nós a lembrarmos do passado de Jesus, mas faremos a experiência de estarmos na presença do Cristo vivo, mesmo que pensemos fazer parte de uma multidão de esquecidos do mundo, nos sentiremos vivos, fortalecidos e salvos. Em Cristo nossa vida e morte cheias de sentido, hoje e para sempre. Amém!

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