
Do Gênesis ao Apocalipse, as Sagradas Escrituras poderiam ser sintetizadas em uma única palavra: V-I-D-A. Do poema da criação ao Cordeiro que abre e fecha os “selos” – “Maranatha” -, os livros sagrados traduzem a essência primeva de Deus e que Ele, generosamente, transmite a tudo quanto cria por meio de sua Palavra performativa, isto é, que cumpre o que diz.
É também vida que entremeia em nossas carnes, por dentro de nossas veias e artérias. “Impuro” na bíblia, em muitas ocasiões, diz respeito à sacralidade em nós, daí o “não tocar”. Algo do divino foi posto em nossa carnalidade e, a partir de então, nossa vida não é mais apenas vida (bios), mas é vida divinizada, plenificada e transfigurada tal como a vida do Ressuscitado. É vida verdadeira – Zoe -. Vida esta que o Cristo nos demonstrou sermos capazes de vivê-la em plenitude (cf. Jo 10,10).
O homem é, em Jesus Cristo, capaz de se configurar àquela imagem e semelhança originais, pois, tendo-O como Imagem aos nos moldar, o Criador nos fez, na força do seu Espírito, filhos no Filho. Assim, nossas ações e atitudes são permeadas pela Graça daquele que, passando por nós, fez-nos o bem; deu-nos a Sua Vida.
Logo, Jesus Cristo, o único e verdadeiro Sacerdote do Deus Altíssimo, conquistou para si uma grande multidão de fiéis e, dentre os muitos “membros“ do seu corpo sacerdotal, vocacionou alguns homens para segui-LO mais de perto, transmitindo aos outros o mesmo dom daquela Vida que se tornou Ressurreta, livre da escravidão da morte e do pecado.
Desse modo, e somente desse modo, é que podemos falar dos presbíteros católicos; homens igualmente encarnados, possuidores de dons e carismas, ungidos no mesmo Espírito que ungira o Cristo no início de sua missão pública, mas que já o precedia e o procedeu após Sua ascensão.
Padres; homens também de limitações, fragilidades e descaminhos, pois, também isso, ou melhor, exatamente por tudo isso, é que se constitui a humanidade do qual são forjados e que vão, dia após dia, humanizando-se. O padre é homem comum e “qualquer” como fora comum e “qualquer” o Jesus de Nazaré. De tão humano vislumbrou o divino; transfigurou-o.
Padres: companheiros na caminhada de fé dos fiéis. Fiel com os seus fiéis. Quando acolhem o recém nascido e o banha nas águas do batismo, dando-lhe a vida do Cristo, é vida o que eles tocam. É igualmente vida que tocam, quando assistem a um enfermo ministrando-lhe o óleo sagrado ou quando acolhe o penitente arrependido e lhe assegura o amor e a misericórdia de Deus. Tudo isso é vida. Também é vida quando assistem no altar do Senhor dois corações enamorados que se comprometem e firmam juntos um único compromisso. É vida que depositam sobre o altar do sacrifício diário e dominical e recolhem, como em cestos, as muitas outras vidas ali presentes e as apresentam, uma a uma, ao único e verdadeiro Senhor de nossa existência. É ainda vida que tocam quando, solidários, encomendam os corpos das almas que se encontram já na presença do Vivente, ainda que estas vidas tenham tido apenas fagulhas de instantes de contemplação neste mundo. O padre abre-lhes, por assim dizer, as “pálpebras” para a eternidade e as acompanha, em oração, no transcurso para o outro lado, isto é, o da Vida Efetiva.
Benditas sejam as mãos que labutam e firmam os passos cansados e trôpegos; que suavizam a dor e derramam o unquento da cura. Santas são as mãos que se estendem solícitas em atenção ao que, suplicante, espera e acredita. Bendita seja toda mão que haja assim. Benditas sejam as mãos dos presbíteros por [se] agirem assim.
Feliz dia do Padre.
Diácono Claudemar Pereira da Silva
Diretor do Centro de Comunicação Diocesano (CCD)
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