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Serviço generoso em favor do outro, por Dom Eurico dos Santos Veloso

Serviço generoso em favor do outro!

por Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora, MG

 

A liturgia do 29º Domingo do Tempo Comum lembra-nos, mais uma vez, que a lógica de Deus é diferente da lógica do mundo. Convida-nos a prescindir dos nossos projetos pessoais de poder e de grandeza e a fazer da nossa vida um serviço aos irmãos. É no amor e na entrega de quem serve humildemente os irmãos que Deus oferece aos homens a vida eterna e verdadeira. A liturgia nos propõe o caminho do Servo do Senhor e do Cristo, sumo sacerdote, que rejeitou projetos de poder e fez de sua vida uma missão e um serviço constante às ovelhas esquecidas e abandonadas pelas autoridades. O exemplo do Servo sofredor nos motiva a buscar com confiança a graça de Deus que nos vem por meio de Jesus, a fim de trilharmos seu mesmo caminho de serviço e doação.

A primeira leitura(Is 53,10-11) apresenta-nos a figura de um “Servo de Deus”, insignificante e desprezado pelos homens, mas através do qual se revela a vida e a salvação de Deus. Lembra-nos que uma vida vivida na simplicidade, na humildade, no sacrifício, na entrega e no dom de si mesmo não é, aos olhos de Deus, uma vida maldita, perdida, fracassada; mas é uma vida fecunda e plenamente realizada, que trará libertação e esperança ao mundo e aos homens. O quarto canto do Servo sofredor, no livro do Profeta Isaías, apresenta o mistério dessa figura humana que se entrega nas mãos de Deus. Nela, percebemos uma fé incondicional, que nos anima e fortalece em nossa própria fé. Dificilmente podemos ler esse texto sem pensar em Jesus. Nele, a dor e o sofrimento de um justo demonstra para a humanidade a salvação de Deus, que é a sua força e a quem Ele se apega.

No Evangelho(Mc 10,35-45), Jesus convida os discípulos a não se deixarem manipular por sonhos pessoais de ambição, de grandeza, de poder e de domínio, mas a fazerem da sua vida um dom de amor e de serviço. Chamados a seguir o Filho do Homem “que não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida”, os discípulos devem dar testemunho de uma nova ordem e propor, com o seu exemplo, um mundo livre do poder que escraviza. Neste Evangelho de São Marcos, temos o curioso pedido dos dois filhos de Zebedeu: assentar-se à direita e à esquerda de Jesus. Eles desconhecem o cálice da dor e o Batismo da cruz e sua ação é reprovada pelos demais que, de certo modo, também gostariam de fazer o mesmo pedido. Fica claro, então, que a glória não é algo externo, como um status de conforto para quem a busca, mas nasce da profunda experiência de amor, que passa, também, pela amargura da cruz. Esse é um ensinamento forte neste Mês Missionário, isto é, entendermos que a missão exige comprometimento, coração aberto e não exclui o sofrimento. No entanto, cremos naquele que nos chamou e nos capacitou e por isso “esperamos confiantes, porque ele é nosso auxílio e proteção”(Sl 32,20)

Jesus adverte que os chefes das nações as oprimem e os poderosos procuram dominar as pessoas. Entre vós, diz, não deve ser assim – e então desafia seus discípulos a seguir outro caminho: conquistar a grandeza mediante o serviço fraterno. O Mestre não incentiva ninguém a ambicionar o poder e se impor sobre os outros, tanto menos com a violência. Quem propõe violência não compreendeu sua proposta. O único poder incentivado por Jesus é aquele que procura libertar as pessoas de seus males, assim como ele fez ao longo de sua vida.

O desejo de poder sobre os outros deve transformar-se em serviço gratuito e generoso: gestos de amor, de misericórdia, de compaixão e de serviço ao próximo. Não foi nada fácil aos discípulos entender a proposta de Jesus. Queriam um Cristo poderoso e triunfador que dividisse o poder entre eles. Eles tiveram muita dificuldade em crer e assumir a proposta do Mestre de Nazaré: cristão é quem faz de sua vida um dom para que os outros vivam!

Na segunda leitura(Hb 4,14-16), o autor da Carta aos Hebreus fala-nos de um Deus que ama o homem com um amor sem limites e que, por isso, está disposto a assumir a fragilidade dos homens, a descer ao seu nível, a partilhar a sua condição. Ele não Se esconde atrás do seu poder e da sua omnipotência, mas aceita descer ao encontro homens para lhes oferecer o seu amor. Jesus, Filho de Deus encarnado, assumiu nossa condição humana, tornou-se irmão entre irmãos, compadecendo-se de nossa fragilidade. Sumo Sacerdote por excelência, ele oferece a Deus, por todos nós, a própria vida e é misericordioso para com nossas fragilidades, pois assumiu nossa humanidade. Com a ascensão, sua solidariedade continua, e, por meio dele, iremos ao Pai.

A Igreja, seguindo o exemplo de Jesus, é chamada a aliviar o peso da dor e do sofrimento do povo, sem pretensões de domínio e proselitismo. O Papa Francisco diz que os cristãos são convidados “a anunciar a novidade do Evangelho, tocando a carne sofrida dos outros e dando razão de nossa esperança”. Celebramos, neste Domingo, o Dia Mundial das Missões e da Obra Pontifícia da Infância Missionária. Sejamos generosos na coleta em favor das POM. Quem ajuda financeiramente a missão tem méritos de missionários. Sejamos generosos!

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