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ARTIGO: QUANTO VALE SER PADRE? – DOM PAULO FRANCISCO MACHADO

Quanto vale ser padre?

Dom Paulo Francisco Machado

Por vezes, ouço com profunda tristeza e apreensão, um padre a manifestar a disposição de deixar o ministério por se sentir mal, cansado – a expressão mais ordinária, comum em nossos dias – ou, preterido em seus desejos, em seus sonhos. É aí que faço a pergunta intitulada neste artigo.

Vivemos hoje agarrados a pequenos projetos, a imaginar serem eles a fonte da nossa felicidade: um corpo sarado, o galgar posição proeminente na sociedade, possuir uma confortável situação econômica, ter seus talentos reconhecidos e admirados pelos outros, pela sociedade. Ora, tais “projetinhos” também acalentam o coração dos servidores do campo do Senhor, dos servidores da Igreja, os nossos amados padres.

Lembremo-nos de Abraão, modelo de homem de fé e de vocacionado para formar um povo agradável a Deus. Ele não ficou preso aos seus “ídolos” familiares (os terumim), mas enfrentou todos os desafios ante seus pés de peregrino. Ele não abandona o projeto de Deus, segue o chamado.

A cada dia, meu amado presbítero, o senhor se dirige ao altar para proclamar as grandezas de Deus, a sua Glória e, em nome de Jesus Cristo, fazendo sua vez, celebra os mistérios de nossa Redenção. Ali, frente à ara sacrifical e mesa do banquete de comunhão, o presbítero exerce de maneira especial, misteriosa e, por força da unção recebida pelas mãos do Bispo, o poder sacerdotal pelo qual celebra a redenção do mundo.

Nunca me esquecerei da lição recebida, ainda nos meus 15 anos, de um grande amigo, o Monsenhor Gilberto Ferreira de Souza. Ele, por sua inteligência e vivacidade, foi secretário de um Bispo, grande orador sacro brasileiro, Dom Antônio Almeida de Morais Júnior e, até mesmo foi secretário do Cardeal do Rio de Janeiro, Dom Jaime de Barros Câmara, por ocasião do Concílio Vaticano II. Mesmo idoso, Monsenhor Gilberto atraía, por seu afável temperamento, muitos jovens para Cristo. Recolhido no seminário, vivia à sombra como professor. Certo dia, ele me confidenciou: “Paulinho (como eu era conhecido), no passado eu servi a Igreja em importantes postos, hoje me encontro aqui e tenho pensado sempre: “Para exercer o sacerdócio, para ser padre eu não preciso mais do que um cálice e uma patena.”

A eterna lição que o Monsenhor Gilberto me ofereceu jamais foi esquecida por mim. Hoje vejo, com profunda tristeza, padres que parecem não entender a sua missão e a sua grandeza, ao pronunciarem sobre as oferendas: “E tomando o pão, deu graças, partiu e deu a eles, dizendo: “Este é o meu Corpo, que é entregue por vocês. Façam isto em memória de mim”. Depois da Ceia, fez o mesmo com o cálice e disse: “Este cálice é a nova aliança em meu Sangue, que é derramado por vocês” (Lc 22, 19-20)”. Perdeu-se em parte a dimensão sacerdotal do presbiterado. Acentua-se a importância do profetismo, do anúncio do evangelho, mas fica em segundo plano, ou, simplesmente é esquecida a dimensão sacrifical da Eucaristia. Quando se diz nas palavras da consagração: “Fazei tudo em Minha memória”, não se requer simplesmente recordar um ato do passado da vida de Jesus É por seu ministério, caríssimo irmão, que se atualiza aquele mesmo ato de amor de Jesus, de entrega pela salvação do mundo. Esquece-se:  o sacerdócio que o Espírito Santo nos conferiu pela oração da igreja, pela imposição das mãos de um bispo, tem a tinta de sangue, a força do amor divino. O padre ao dizer as palavras da consagração não faz só uma simples recordação histórica da Última Ceia. Ele e os demais celebrantes assumem o compromisso de seguir os passos do Senhor, misto de cruz e glória, de morte e de vida plena. A gramática de nosso Senhor é a gramática da Cruz e, ao mesmo tempo, a gramática da Glória.

Todo discípulo de Cristo já sabe que somos seguidores de um Deus ensanguentado, de um Deus a nos expressar seu infinito amor, na oblação total de seu ser. Se eu perguntasse a um padre desencantado com seu ministério, ante seus sonhos pessoais não realizados, ante o cansaço e a frustação de seus desejos estiolados na sua expectativa no período de sua formação no seminário: “Quanto vale ser padre?” – Seu ministério vale o sangue do Redentor. Você deseja edificar o Reino de amor sem sangue, sem dor, sem renúncia, o que equivale dizer sem verdadeiro amor? Se não se toma a cruz de Cristo, não se renuncia a si mesmo, seus planos e projetos pessoais, não se pode ser discípulo de Cristo, e, muito menos, padre. A palavra do Senhor vale para todos os cristãos, mais ainda para o sacerdote: “E dizia a todos: “Quem quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, carregue sua cruz a cada dia e me siga” (Lc 9, 23)”. Você quer seguir a um Cristo sem cruz, sem as marcas de sua dor, e, do seu amor, sem renúncia? O Senhor não nos prometeu um mar de rosas. Então cuidado, atenção, você está a acompanhar um falsário que jamais o levará à Páscoa da Ressureição.

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