Destaque Palavra do Bispo

Quando a pandemia passar…, por Dom Paulo Francisco Machado

Quando a pandemia passar…
Dom Paulo Francisco Machado
Bispo de Uberlândia

A pandemia produzida pelo coronavírus deixou a população apavorada, reclusa nas casas, apartamentos e casebres, angustiada com as contínuas notícias de morte e crescente número de contaminados. Não sei quando ficaremos livres deste mal, mas sei que vai passar. Não tenho bola de cristal, não consultei realejo para saber coisas futuras, nem pedi a um áugure para analisar o fígado de animal. Deposito o futuro nas mãos de Deus e faço o que deve ser feito no presente, mas com o olhar de quem crê e espera.

Desde que a humanidade surgiu, há centenas de milhares de anos no interior da África, ao menos esta é a teoria que vem se impondo em muitos meios acadêmicos, que ela vem passando por graves problemas de sua sobrevivência: guerras, fome, catástrofes naturais ou provocadas pela incúria humana, seca, bombas potentíssimas, doenças transmitidas por vírus, como o coronavírus.

Não podemos negar que hoje, muito mais que no passado, como por exemplo,por ocasião da chamada gripe espanhola, após a primeira grande guerra de 1914-1918, ou aquela pestenarrada na obra imortal de Manzoni, “Os noivos”, justamente em Milão, capital da região – coincidência – da Lombardia,no século XVII,temos à disposição muitos mais e preciosos recursos para vencer esta batalha.

Não vou ficar falando do passado. Pois este já escorreu como água pelas mãos do tempo. Temos somente o instante presente para, ao aprender as lições do passado, dar oportunidade a um futuro promissor. E assim, fico a projetar na tela do porvir alguns sonhos, pois “sonhar é preciso”. Eles são como o açúcar a permitir que a cada manhã nos levantemos e ergamos o peso às vezes monótonos, para construir um dia melhor.

Vem-me logo à mente uma dúvida: Posso falar em promessa de novo tempo, quando por toda parte são propaladas notícias de morte. Vestais e Cassandras anunciam a derrota, diante de uma humanidade ajoelhada perante um inimigo invisível ou, outros numa gritante ingenuidade estão a afirmar que tudo passará num estalar de dedos?

Não duvido. Esta é a mais terrível crise sanitária das últimas décadas. No pó se encontram as desejadas previsões de crescimento econômico e o “deus” do progresso está prostrado em profunda depressão, sem Diazepam, serotonina do saboroso chocolate ou qualquer outra droga que dê jeito.

Aos cristãos, recordamos. Somos ‘morbidamente’ otimistas devido a virtude teologal da esperança, concedida a nós pelo batismo. Somos como o alpinista que não se intimida diante de um paredão. Logo tomamos de grampos (oração, obras de misericórdia, sacramentos) para afixar na pedra, munimo-nos de cordas e iniciamos a subida. Aspiramos sempre as coisas mais altas, tropismo de quem crê na luz do Sol Nascente, Jesus.

Com esses sentimentos, partilho meus sonhos para o futuro pós pandemia, pois se fizermos cabedal da dolorosa experiência presente, poderemos traçar um futuro melhor. ‘Investiremos’ mais na fé depois de tantas semanas sem poder, junto com a comunidade, participar viva e ativamente das Celebrações Eucarísticas. Iremos, ainda neste ano, votar em candidato compromissado com o respeito à vida, toda vida e, assim, preparar-nos-emos mais para superar outras barreiras, outras pandemias. Eu me pergunto se os próximos supercomputadores quânticos servirão à vida ou à morte. A atual angústia move-nos a investir na vida, em pesquisas de novos recursos para a sua promoção, tornando a humanidade capaz de superar COVID-19, …COVID-100. Os estados todos, nacionais e internacionais, irão privilegiar aqueles elementos indispensáveis à saúde: água tratada, esgoto, habitação, alimentação saudável, educação…. Os centros hospitalares receberão condignamente as pessoas, deixando seus corredores limpos e arejados. A vida integral da mulher, da criança, do nascituro será respeitada. A cor da pele e a religião não serão motivos para discriminar pessoas.

Tenho motivo para otimismo. Sairemos melhores da pandemia. Vejo quão criativos somos, mesmo com pequenas, mas significativas, ações. Cito uma das mais bonitas:  a de apor em lugar do crachá uma foto grande do rosto do médico ou enfermeiro. Realmente a nossa face nos revela, ela é expressão de toda a humanidade, somos humanos e não uns ETs. O médico,ao começar tal iniciativa, acolheu, assim penso, um raio de luz divina.

A atual pandemia pode deixar para a humanidade uma herança de sabedoria, de justiça e de prudência. Seremos uma sociedade mais humana, comprometida com nossos semelhantes mais frágeis. Substituiremos a cultura da guerra, do conflito e da competição pela cultura de paz e de rejeição a toda forma de violência.Teremos mais tempo, uma vez que a Inteligência Artificial (IA) se espalha por todo canto, de contemplar mais docemente os rostos de nossos semelhantes e perceber que guardam sempre os nossos traços e os traços de Deus (Gn1,27). Cuidaremos zelosamente da criação. Dedicaremos mais tempo à poesia, à oração, à contemplação da natureza, às artes. Quão promissor será o futuro que se aproxima!

As celebrações eucarísticas piedosamente assistidas pelos meios de comunicação social, não nos dispensarão para sempre da presença física quando nos for permitida, mas hoje nos tornaram cientes da grande capilaridade desses meios que, como a internet, nos oferecem para evangelizar. Então, nas redes sociais, que tal propalar o vírus do Amor de Quem foi coroado de espinhos, deixou-se crucificar e, finalmente, pela força do Amor do Pai, ressurgiu. Somos arautos do Mistério Pascal que tanto seduziu as primeiras gerações cristãs. Não somos insensíveis diante da morte do Crucificado de Nazaré, pois Ele é o RESSUSCITADO.

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