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17/08/2014: "Assim na terra como no céu"

Comentário ao Evangelho da Solenidade da Assunção de Nossa Senhora: Lc 1, 39-56

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É possível nós, homens e mulheres de hoje, estejamos tão envolvidos nas intermináveis atividades e urgências de nossa vida, que apenas raramente lançamos nosso olhar para algo que não esteja rigidamente previsto em nossas agendas. E deve ser assim, justificamos, pois de outro modo não seríamos capazes de executar todos os trabalhos, honrar todos os compromissos e responder a todas as demandas que se nos impõem. Tanto que, para nós, pode parecer estranho o encantamento que o céu exercia sobre os antigos. Não era para menos: nas noites errantes, era na guia das estrelas que os navegantes alimentavam a esperança de chegar; era o manto silente do céu que lhes cobria o cansaço ao fim de cada dia de trabalho; ou mesmo oferecia-lhes gratuitamente o espetáculo de milhões de astros, girando sem fim no firmamento, resplandecendo a exuberância da criação e a santidade de seu Criador.

Não é, pois, sem razão que esses nossos antigos irmãos mais velhos na fé imaginavam ser o céu a morada de Deus, o lugar onde Ele habitava desde sempre, em luz inacessível, acima das abóbadas mais sumas, que, mesmo tão magníficas, não eram senão reflexos pálidos de seu ser divino. E quando, chegada a plenitude dos tempos, Jesus de Nazaré nos revelou por sua vida a presença de Deus que caminha conosco, chamando-nos a participar de sua vida divina, não tivemos dúvida e exclamamos: ele, Jesus, é o Cristo, o Verbo eterno do Pai, e foi de lá, do céu, que ele desceu. E, por sua ressurreição, para lá nos encaminha, de modo que não mais seja só a morada de Deus, mas a morada última de todos os homens e mulheres, de todos os tempos e de todos os lugares. Jesus Cristo transformou o céu no horizonte derradeiro da existência, não como abandono ou fuga do mundo, mas como convite a nos responsabilizarmos cada vez mais pelo mundo e pelas pessoas, até implantar na terra a ordem celeste, presente já em cada coração: assim na terra como no céu – eis nossa esperança.

É este o mistério que hoje celebramos, nos lembrando da Bem-aventurada Virgem Maria. Ela também, a exemplo de seu Filho, terminada sua peregrinação de fé, descansou no Senhor; e foi elevada ao céu, de corpo e alma. Dito de outro modo: foi totalmente assumida (assumir – assunção) por Deus. Pois a morte não põe fim à existência de nossa interioridade, nossos sonhos, nossas esperanças (alma). Como também não pode destruir aquilo que de precioso ajuntamos à nossa existência: o olhar, o toque, a sinceridade do beijo, a arte, a desenvoltura e a dança, o afago, a carícia, a prontidão de ir ao encontro, os esforços em prol da justiça e da paz (corpo), a alegria de ver a presença de Deus mudar a história de seus amados. Assim, Maria elevada ao céu nos ensina que nada do que somos se perde na morte e no esquecimento; que, pelo contrário, Deus nos assume inteiramente, com tudo o que somos e amamos, temos e esperamos, até que Ele mesmo seja a plenitude de nossa esperança – até que Cristo seja tudo em todos.

Por fim, em Maria elevada ao céu, é possível reconhecer a imagem da mulher do Apocalipse, a Igreja, comunidade dos irmãos de Jesus que, não obstante a dureza das batalhas travadas dia a dia, sustentada pela perseverança de tantos homens e mulheres que sofrem voluntariamente suas dores, um dia também será elevada e assumida inteiramente por Deus. Na Assunção da Virgem, contemplamos não um privilégio oferecido à Mãe de Deus, mas o destino último de todos nós.

Que esta festa nos ajude a sermos mais atentos àquilo que nos aproxima de Deus e prefigura nossa assunção derradeira. Que os afazeres sempre urgentes de nossa vida cotidiana não impeçam de contemplarmos as maravilhas que o Senhor realiza em nossas vidas, pois santo é o seu nome. Que, sendo fiéis aos compromissos que assumimos, não nos esqueçamos de ser fiéis, sobretudo, ao próprio coração, céu onde habita Deus.

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Por, Frei João Júnior ofmcap

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